CAPÍTULO 02
UMA HISTÓRIA CRIADA E ESCRITA POR
João Paulo Ritter
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RESUMO
Agora que Miguel tem poderes, com a ajuda de seu amigo, Leandro, ele vai explorar cada habilidade ganhada.
Os Poderes
O quarto inteiro estaria tomado pela escuridão da noite se não fosse a intensa luz que é emitida pelo cristal roxo que está nas mãos de Miguel. O rapaz observava o objeto com todo o cuidado, queria compreender como aquilo havia parado no meio de uma chuva de meteoros e de onde surgira, qual seria o seu lar? Decidiu que era hora de dormir quando viu que já passava das três da madrugada. Enrolou o cristal em um pano grosso e o deixou sobre sua escrivaninha, em seguida deitou em sua cama e se cobriu com o grosso edredom.
Não demorou muito para cair no sono.
Sentiu um frio arrepiante percorrer o seu corpo. Ainda com seus olhos fechados, ele começou a procurar por seu edredom, era comum que ele caísse no chão durante o sono. Não sentiu o seu colchão e só parou para pensar sobre isso quando um forte vento frio bateu contra seu rosto. Ao abrir seus olhos, levou um susto quando o que viu não foi o seu quarto, mas sim um mar de nuvens e o topo de grandes prédios do centro da cidade.
— Isso é um sonho? — se perguntou, ainda confuso com o que estava acontecendo.
Sentiu algo se mexer em suas costas, como um membro extra e quando olhou para trás viu um par de asas negras.
— Mas o quê?! — gritou assustado, perdendo momentaneamente qualquer controle que tinha sob as asas e afundando alguns metros antes de, em um ato de desespero, conseguir retomar as batidas que o faziam flutuar.
Miguel começou a se perguntar o que faria, onde deveria ir e o que estava acontecendo. Quando olhou para a sua mão esquerda, fechada em punho, abriu-a devagar e viu o cristal que caiu na Terra ao lado dos meteoros. Ele respirou fundo, tentando entender o que estava acontecendo, enquanto entendia que a única solução óbvia era aquela pedra pequena ser a razão daquilo tudo, mas como? Tentou manter a calma, apesar da dificuldade em se concentrar com o frio que fazia naquela época do ano no Rio Grande do Sul.
Ele estava vestindo só sua calça de pijama. Pelo menos ela tinha bolso, que foi onde decidiu colocar a pedra.
Tentou controlar suas asas, queria fazer seu corpo se movimentar no ar com o auxílio das penas negras. “Como os anjos conseguem voar com isso na Bíblia?” Questionou em seu pensamento em uma tentativa de fazer graça para si mesmo, mas acabou falhando.
— Tchê, eu não sirvo para comédia, nem o Zorra Total me contrataria — falou em um tom baixo.
A movimentação estava difícil e um pouco lenta, seu corpo parecia ainda estar se acostumando com aquele par extra de membros. Depois de alguns minutos de insistência, conseguiu pegar o jeito de voar e deixou o seu corpo deitado no ar o que deu mais aerodinâmica ao seu voo.
Ainda de longe, conseguiu avistar a casa de Leandro, não foi a primeira pessoa que pensou para mostrar aquela novidade, mas ficou com medo de qual seria a reação de Daniela. Não queria perder a amizade de sua amiga de tantos anos. O pai dela havia sido assassinado durante uma operação da polícia, ao tentar prender uma gangue de super-humanos que assaltavam bancos em Porto Alegre. A reação do japonês lhe parecia a mais engraçada quando analisou as poucas possibilidades.
Pousou no pátio dos fundos da casa de dois andares, sabia que o quarto do garoto ficava no primeiro e então andou até a janela do cômodo. Deu três batidas de leve na janela de metal, depois de um longo tempo de silêncio repetiu as três batidas, mas agora com mais força.
Dentro do quarto, o jovem Leandro acordou com um susto, o que levou a sua queda da cama, machucando de leve seu braço. Com um pouco de medo, encarou a sua janela que fica ao lado da cama.
— Não é nada — sussurrou para si mesmo repetidas vezes enquanto abria a janela. Quando viu o rosto de Miguel, não o reconheceu na mesma hora, deus alguns passos para trás levando outro tombo, caiu de bunda no chão.
— Cara, tu tá bem? — perguntou Miguel colocando seu rosto para dentro do quarto.
— Como você chegou aqui numa hora dessas? — Leandro perguntou enquanto levantava do chão. Notou algo de diferente, encarou o amigo com uma careta. O outro movimentou rapidamente suas asas. — Mas que troço é esse? — perguntou fazendo um movimento estranho com suas mãos e terminando apontando seus dois dedos indicadores para o par de asas negras.
— Eu não sei, mas… — mostrou o cristal roxo para o amigo. — Eu tenho um palpite.
Leandro sorriu de orelha a orelha, uma enorme empolgação tomou conta do seu corpo. Seu melhor amigo havia ganhado superpoderes irados? É isso mesmo? Poderia realizar seu sonho, de forma indireta, de se tornar um super-herói.
— Você consegue só voar? — perguntou o amigo cheio de empolgação.
Miguel ficou contagiado e respondeu:
— Não sei.
— Vamos descobrir, eu conheço um lugar — disse o nipo-brasileiro por fim.
[…]
Miguel está mais uma vez voando entre as nuvens do céu noturno, com Leandro em seus braços. O japonês falou sobre um local que estaria deserto àquela hora, onde o seu amigo poderia descobrir o que mais de extraordinário ele poderia fazer. Tratava-se do pátio de uma fábrica de concreto usinado, Leandro conhecia o lugar de uma entrevista de emprego que havia feito lá.
— Me diz de novo o porquê de você não ir buscar a Daniela também. Ela é a sua melhor amiga, e há bem mais tempo do que eu… — comentou o jovem japonês sendo segurado pelo seu peitoral.
Miguel suspirou e respondeu em seguida:
— Eu meio que… Meio que tenho medo da reação dela — a sua voz tinha um tom de preocupação. — Lembra que o pai dela morreu durante uma operação contra super-humanos? E se ela não quiser mais ser minha amiga porque na madrugada acordei com essas asas?
— Deixa de bobagem, tchê! — apontou para o lado esquerdo. — Mude a rota e vamos para a casa da Dani.
— Eu tenho asas e não supervelocidade ou uma máquina de transporte — retrucou o garoto de asas.
— Mais uma pergunta.
— Manda, Leandro.
— Você, por acaso… Assim… Tem superforça? Tipo como Guerreiro Guarani? Falando nisso, comprei uma figura de ação nova dele… Enfim, voltando ao assunto principal. Eu lembro muito bem de você antes disso tudo e, bem, você não era exatamente um exemplo de força física.
Um instante de silêncio se fez enquanto Miguel pensava sobre o que lhe foi dito. Logo respondeu:
— Talvez, não uma superforça… porque estou te carregando, e, cara, não é como levar uma pena, mas sim uma garrafa de 1 litro de Coca-Cola, eu acho.
— Valeu, esse comentário significou muito para mim — sussurrou Leandro. — Vamos para a casa da Dani?
Em seguida, Miguel deu a meia volta, pegando o caminho para a casa da sua melhor amiga.
Miguel pousou no pátio da usina de concreto, Leandro estava sendo carregado pelo seu braço esquerdo e Daniela pelo direito. Quando os dois já estavam no chão, ficaram de frente para o amigo que ostentava grandiosas asas negras. Depois desse vai e vem, Miguel tinha começado a se acostumar com o novo fato de ter asas, era como uma extensão do seu corpo que podia levá-lo à infinitas possibilidades.
— Você tem asas, pode voar… Isso tudo é estranho, eu não sei bem o que dizer, mas… — Daniela dizia em um tom calmo, observando o amigo. — Sabe o que isso significa? O que você poderia fazer, Miguel?
— Eu sabia! — gritou Leandro ainda empolgado, dando uma risada estranha.
— Você pode ajudar as pessoas. Combater criminosos e principalmente aqueles que possuem superpoderes — a garota negra continuou. — Pensa bem, isso não pode ser coincidência. Seu sobrenome é Oliveira dos Anjos, seu nome é de um anjo e agora… Agora você tem asas!
— Uou, isso é tipo… Uou — sussurrou o japonês.
Mas Miguel não pareceu se importar muito com isso. Deu as costas e ficou de braços cruzados dando de ombros, ignorando a fala anterior da sua melhor amiga.
— Não estamos aqui para isso — disse em um tom que poderia ser interpretado como seco. — Leandro queria ver o que mais eu posso fazer e eu também. Essa história de super-herói, não dá. Já existem tantos pelo Brasil e pelo mundo, não acompanha as páginas de Facebook?
Daniela suspirou.
— Bem, voltando as suas habilidades, como você conseguiu voar tão bem? — perguntou Leandro.
Miguel voltou a ficar de frente para seus amigos, agora com um semblante pensativo enquanto procurava dar uma resposta ao questionamento.
— No início foi difícil, mas foi ficando fácil aos poucos… Como eu posso explicar… — voltou a ficar em silêncio, pensando. — Acho que foi como quando um filhote de pássaro descobre que pode sair do ninho para o céu azul, acho que foi isso.
— Poético, mas nem tanto — comentou Dani.
— Agora vamos testar a sua força — pediu Leandro com um grito que soltou de repente.
Sorrindo, Miguel tomou para si a empolgação do amigo, assim como Daniela fez.
O garoto de cabelos e asas negras começou a procurar por algo que seria um teste para sua superforça, olhava para todos os cantos do pátio vazio, exceto para eles e, quando olhou para trás, bem no fundo onde estava tudo negro forçou sua vista em uma tentativa de enxergar melhor. Levantou voo e saiu em uma grande velocidade para a parte escura do pátio da usina. Segundos depois, Miguel retornou carregando um grande bloco de concreto que deveria ter 1 metro ou um pouco mais. Soltou o pesado quadrado no chão e voltou para os fundos, sem dar tempo de uma reação para seus amigos. Retornou arrastando a traseira de um caminhão misturador de cimento, o soltou assim que se encontrava cara a cara com Dani e Leandro.
Miguel estava ofegante.
— Cansou? — perguntou o amigo.
— Acho que a minha força tem algum limite — apontou para a traseira do misturador —, essa coisa foi difícil — sua respiração se normalizava aos poucos.
— Você vai ficar com essas asas para sempre? — perguntou Daniela, mudando o objeto de assunto do trio. Aproximou-se do par de asas, examinando-as. — Isso seria um problema, não seria? Como esconderia sua identidade secreta?
— Eu não vou ser um super. — disse Miguel mais uma vez.
— Mas ela tem razão — Leandro disse — como vai fazer para esconder?
— Não sei — sussurrou Miguel. Em seguida ele tirou de seu bolso o cristal roxo, a pedra já não emitia mais o seu brilho intenso como algumas horas atrás, mas ele ainda conseguia sentir a sua energia. O minério lhe mostrou uma imagem, eram suas asas, elas estavam desaparecendo no ar com um sopro gentil, se desfazendo em uma energia negra fragmentada.
— As asas! — gritou Daniela. — Desapareceram…
— Como você fez isso? — o japonês perguntou antes que a sua amiga continuasse. — Não, não! O mais importante! Como vamos voltar para as nossas casas?! — Leandro gritou, sem dar tempo para absorverem o que tinha acabado de acontecer. — Faça elas voltarem, Miguel! Agora!