CAPÍTULO 04 O MESSIAS, PARTE I
UMA HISTÓRIA DE: João Paulo Ritter
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Quando chegou ao portão da frente de sua escola, depois que o sinal tocou avisando aos estudantes que a hora de ir embora havia chegado, Miguel se deparou com uma multidão ao redor da saída. Confuso e curioso, ele tentou procurar uma brecha entre aquelas inúmeras pessoas para poder ver o que estava acontecendo, então olhou para o seu lado direito e viu uma menina, da qual ele tinha certeza de já ter visto em sua sala de aula. Se aproximou e perguntou a ela:
— Você sabe o que aconteceu?
— Parece que um garoto acabou de ser expulso de casa pela própria mãe. — A desconhecida respondeu.
Ainda mais curioso em relação aquilo, Miguel atravessou o aglomerado de alunos, abrindo caminho com dificuldade. Ao chegar além do portão da escola, viu o motivo daquela confusão ainda acontecendo de forma calorosa. Ficou parado ao lado de Leandro e viu que Daniela estava acudindo um garoto que se debulhava em lágrimas, aquele deveria ser o que foi para o olho da rua.
— O que houve aqui? — Miguel pergunta ao amigo.
— Ele foi expulso de casa por ser gay. — Respondeu Leandro. — A mãe dele disse, antes de expulsá-lo, que foi Deus quem a mandou fazer.
Miguel fez uma careta, achando aquilo estranho. Quando Daniela viu o seu melhor amigo, ela se aproximou e o agarrou pelo seu braço. Levou Miguel para longe daquela multidão, onde poderia conversar com ele sem ter os ouvidos de outras pessoas enxeridas.
— Eu os conheço a um bom tempo, eu sei que aquela mulher nunca faria isso com o filho. — Começou a falar em um tom baixo, mas, mesmo assim, o rapaz conseguia notar a indignação nas palavras. — Ele me disse que ela começou a mudar depois de frequentar o culto de um líder religioso novo, que abriu sua Igreja recentemente no centro da cidade.
— E o que eu tenho a ver? Eu não posso lutar contra as crenças das pessoas, Dani. — Disse Miguel confuso.
— Esse líder começou há atuar três dias depois da chuva de meteoros, na mesma semana em que você ganhou as suas habilidades. — Explicou a garota negra. — Não acha que isso é muita coincidência? E se aquela pedra espacial não alterou somente você… E se ela afetou mais pessoas em Porto Alegre?
— Você está tentando me dizer que… Que esse cara, sei lá, esse líder religioso, ele é como eu?
— Em termos leigos, sim. Pode ser não, concorda comigo? — Dani perguntou arqueando sua sobrancelha esquerda. — Eu mandei uma mensagem para você com a localização dessa Igreja, se podemos chamar assim. Pensei que o Anjo Noturno poderia investigar. Eu vou levar o meu amigo até uma casa de apoio para jovens LGBTs que foram expulsos de casa. Pensa bem, Miguel.
Daniela voltou para o seu amigo que se encontrava desabrigado, em seguida os dois saíram dali. Miguel ficou em um estado pensativo.
…
O uniforme que Leandro fez para o amigo atuar como super-herói pela grande Porto Alegre não era nada muito trabalhado, um traje simples feito de um tecido semelhante a lycra, mas não tão quente. A cor principal do uniforme é um tom de roxo escuro, luvas e botas é mais puxado para o lilás e o cinto se encontra na cor cinza. Utiliza uma máscara que deixa nariz, cabelo e boca expostos. O par de asas negras dava um toque ao uniforme.
Ainda no céu cinza por causa do clima frio, Miguel agora como o Anjo Noturno avistou uma um homem roubar a bolsa de uma senhora idosa, se colocou em posição e desceu com toda a velocidade que podia, enquanto soltou a seguinte frase típica de uma história deste gênero:
— Não no turno do Anjo Noturno, cara!
Passou voando sobre a cabeça da mulher, que ficou impressionada com o que viu. Na cola do ladrão, o super-herói criou uma pequena esfera de energia roxa na ponta do seu dedo e jogou para frente, atingindo as costas do seu alvo e fazendo com que ele caísse de bruços no chão. Pousou em pé, de frente para os criminosos, suas mãos estavam em sua cintura.
— Não é legal roubar senhorinhas, sabia. — Disse pegando a bolsa que caiu ao lado do homem. — Essa gente já ganha muito pouco da aposentadoria, quer tirar o que delas? — Quando percebeu que o meliante estava se preparando para fugir, Anjo Noturno o segurou pelo braço com força.
— O que você vai fazer cara? — O ladrão pergunta.
— Primeiro vou devolver essa bolsa para a verdadeira dona. — Voou até a senhora, ainda carregando o criminoso pelo braço. — Aqui está senhora, sua bolsa. — Disse entregando o acessório para a idosa.
— Obrigada… — Respondeu a mulher confusa. — Quem é você? Faz tempo desde da última vez que vi um super-herói.
— Pode me chamar de Anjo Noturno. — Respondeu sorrindo.
— Mas não é noite… — Sussurrou a mulher indo embora.
Miguel bateu com força suas asas e em seguida levanta voo com toda sua velocidade, o criminoso ainda estava sendo carregado pelo seu braço.
— Você tem passagem pela polícia? — Pergunta Anjo Noturno sem olhar diretamente para o outro.
— Sim… — Respondeu meio receoso.
— Ótimo, quando eu te jogar na frente da delegacia eles vão acreditar.
— Como se isso fosse me impedir de alguma coisa. — Retrucou o ladrão não se importando muito com o que o Anjo disse.
— Olha aqui amigo, quando eu estou vestindo essa roupa ridiculamente apertada costumo perder a paciência muito rápido, então, é melhor fechar o bico ou, então, eu te solto e você vai virar pudim de ladrão.
O homem ficou em silêncio, sem ele perceber Miguel soltou um sorriso aliviado.
— Perfeito. — Disse o super-herói por fim.
…
A noite já estava caindo, o céu cinza e frio estava ficando em tons mais escuros, as luzes públicas já estavam sendo ligadas por todo o centro da cidade, alguns comércios estavam fechando e outros abrindo. Em uma parte escura da Praça Farroupilha, vemos o Anjo Noturno pousando e em poucos segundos depois disso, Daniela surgindo das sombras segurando um saco de papel com o lanche do amigo. A parte inferior estava manchada de gordura.
— Que fome é essa, hein tchê. Pelo jeito lutar contra o crime abre o apetite. — Comentou Daniela.
— Uhum… — Disse Miguel enquanto mordia o seu lanche, revira os seus olhos ao sentir o delicioso gosto que aquele lanche possui, se trata de um típico sanduíche feito somente no Rio Grande do Sul, como se fosse um hambúrguer maior em tamanho e prensado no final do processo. — Isso está muito bom, nossa… — Comentou com a sua boca cheia.
— Fecha a boca. — Disse Dani. — Então, já foi investigar o tal líder religioso?
— Ainda não… — Disse o garoto com asas negras terminando de comer. — Ele tem um culto hoje a noite. Vou visitar ele com as minhas roupas civis.
— Boa sorte com isso. — Pediu a amiga.
Miguel sorriu.
O interior daquela Igreja era tão grandioso quanto o seu exterior. Dourado e vermelho faziam parte da decoração que misturava imagens de religiões de diversas vertentes, estava abafado ali dentro. Miguel, com roupas civis, passou a mão em seu cangote e sentiu o seu suor escorrer. Não havia bancos, todos estavam em pé de frente para o altar. O garoto andou até ficar no centro da multidão, olhou para cima e viu um teto de vidro, em seguida voltou a olhar para o altar quando viu o tal do líder religioso. Esse homem tinha mais ou menos 40 anos, vestia um manto vermelho-escuro com capuz, sua pele tem um tom pálido.
O líder religioso ergueu seus braços para cima e começou a falar:
— Muito bem… Irmãos e irmãs, estamos aqui reunidos novamente! — Sua voz pesada ecoava por toda aquela construção. — Eu falei com Deus novamente! Ele me fez revelações… Revelações que somente faria para o seu Messias do Novo Mundo! — Seus olhos começaram a emitir um sinistro brilho vermelho. Miguel notou que com isso as pessoas ficaram em silêncio, em um transe profundo, seus olhos também ficaram tomados por um brilho avermelhado. — Eu vou revelar a verdade! — Gritou.
Uma aura roxa apareceu ao redor do corpo do Messias, uma aura da mesma cor do cristal que deu a Miguel as habilidades de Anjo Noturno, era como se aquilo fosse um aviso ao rapaz que aquele homem que se encontrava no altar também fora afetado pela energia do misterioso minério.
Atordoado, sentindo a Terra girar ao seu redor e passando mal por causa do calor, seu estômago se revirava parecendo que ia sair pela boca. Miguel começou a caminhar para a saída, tentando não esbarrar nas pessoas e falhando em alguns casos. Quando finalmente atravessou a porta, se sentiu melhor ao respirar o gelado ar do inverno gaúcho. Sentou na calçada, recuperando aos poucos a sua respiração normal. Se aquele homem também foi afetado e ganhou poderes de controle mental, pois foi isso que ele presenciou no culto, outras pessoas deveriam ter sido afetadas também e com isso, aquela famosa frase de grandes poderes e grandes responsabilidades, havia se tornado verdadeira. Tinha mais um motivo para ser o Anjo Noturno, além de se sentir bem ajudando as pessoas.