A CONVERSA (FINAL VOLUME 01)

UMA HISTÓRIA ORIGINAL: João Paulo Ritter

+12

O sol brilhava forte lá fora, uma coisa nada comum para aquela época do ano.
O corpo do adolescente ainda se encontrava dolorido por causa da batalha ocorrida na noite anterior. Após acordar tomou um banho com água morninha e depois se vestiu uma roupa confortável, adequada para o clima daquele dia. Quando chegou a sala de estar, encontrou sua mãe assistindo o telejornal matinal local.
Segundo o sonho com seu pai, ele deveria conversar com sua mãe sobre a questão do dinheiro, entretanto os seus pensamentos mudaram depois da ideia de Leandro e o que gostaria de contar para sua mãe não era mais sobre sua vontade de ajudar em casa e a vergonha de não poder. Ficou alguns minutos encarando a sua mãe de longe, só tinha uma coisa da qual queria contar para ela e não esconder mais essa parte da sua vida, não achava certo de se fazer, mas como ela aceitaria essa notícia?
— Mãe. — disse Miguel se aproximando.
— Sim? — perguntou a mulher sorrindo.
— Eu quero… Eu preciso conversar com a senhora sobre uma coisa.
A mulher sorriu em resposta.
A televisão foi desligada para que a conversa seguisse sem interrupções.
As mãos de Miguel começaram a tremer, nitidamente se encontrava nervoso, suor começava a escorrer pela sua testa, a mãe o observava sem dizer nada, porém sabia do que se tratava aquela conversa e esperava por aquele dia desde quando descobriu a verdade sobre seu filho. Ela também não conseguia ver seu menino nervoso daquela maneira, ela aceitava e o amava, queria que ele soubesse disso. Iria amá-lo não importa o seu jeito.
— Tudo bem Miguel, eu já sei. — a mais velha sorriu, um sorriso maternal que pegou o coração do adolescente desprevenido.
— A senhora já sabe? — o rapaz perguntou.
Ela afirmou com sua cabeça.
— Desconfiei quando você estava entrando na adolescência, confesso que no início tive dificuldade em aceitar e acreditar, mas com o passar do tempo percebi que você não deixou e não deixaria de ser o meu guri, o meu filho. — lágrimas começaram a cair do seu olho esquerdo, ainda sorrindo ela limpou as pequenas gotas de água. — Miguel, eu não me importo se você é gay ou qualquer outra coisa, quero que saiba que sempre vou te amar porque você é meu filho querido e só quero que seja feliz. Você é assim e não posso mudar.
— Mãe. — sussurrou o jovem herói, naquele momento um estranho calor preencheu todo seu peito, não conseguiu conter sua emoção e se deixou levar pelo momento. A abraçou com força deixando com que suas lágrimas escorressem pelo seu rosto.

— Então você contou? — Daniela perguntou animada. — Ah que alívio, estava na hora de você sair do armário para sua mãe não é verdade? — fez a última pergunta direcionada a Leandro.
— Eu concordo. — o nipo-brasileiro respondeu.
— Na verdade eu queria contar para ela sobre o Anjo Noturno, mas de alguma forma ela sabia que sou gay e achou que o assunto se tratava disso. — revelou Miguel envergonhado. — Eu sempre achei que não dava muito na cara sobre isso, sabe?
Daniela e Leandro trocaram olhares suspeitos.
— Bem, você teve uma festa de aniversário com o tema de Britney Spears. — comentou a garota negra.
— Você assiste RuPaul’s Drag Race na sala da sua casa. — Leandro disse.
O super-herói adolescente suspira derrotado, se recostou na cadeira da cantina escolar.
— Pelo menos não contou sobre sua identidade secreta, isso seria a coisa mais idiota que você faria em toda sua vida, seu idiota! — Daniela falou tentando regular seu tom de voz para que toda a escola não ouvisse.
Um garoto, que ninguém nunca tinha visto na escola, entrou na cantina.
Todos os olhares se dirigiram para o moreno de olhos escuros. A sua presença emanava uma energia mística que ninguém conseguia decifrar, havia algo nele que rapidamente atraiu a atenção de Miguel, como de todos os outros, mas não se tratava de algo relacionado ao cristal roxo de outro planeta.
Quando seus olhares se encontraram, Miguel sentiu um raio de energia ligando um ao outro, no final o rapaz misterioso sorriu.
— Cara, imagina como essa esquisitice seria legal se tivesse acontecido em uma daquelas animações japonesas sobre romance entre dois garotos. — comentou Daniela.
— BL? — Perguntou Leandro. — Por que deu a descrição e não o nome?
— Às vezes algumas pessoas podem não reconhecer apenas pelo nome. — respondeu a adolescente negra.
— Que pessoas? — Leandro perguntou quase incrédulo com aquele argumentou. — Só nós três estamos conversando aqui!
Então, o rapaz deu de ombros, sem compreender por completo o que a amiga quis dizer.
Por sua vez, Miguel ficou intrigado com aquela figura nova no colégio. Qual seria seu nome? Estaria na mesma classe que a sua? Queria muito descobrir.

NO PRÓXIMO VOLUME…

Enquanto o Anjo Noturno fazia seu trabalho em Porto Alegre, uma trama se desenrolava na mesma cidade, mas com outros personagens.
Em um hotel simples no centro de Porto Alegre, uma construção com as paredes pinchadas e parte do reboco com falhas, tanto na fachada do prédio quanto dentro dos quartos.
Principalmente no quarto em que vemos um jovem, vestindo apenas uma grossa toalha branca amarrada em sua cintura, saindo do banheiro velho.
Se trata de um rapaz com seus 18 anos de idade, sua pele preta em um tom puxado para um tom levemente mais claro, cabelos cacheados e profundos apaixonantes olhos castanhos. Esse é Maurício.
Com passos curtos, Maurício se aproximou da janela do seu quarto que ficava no terceiro andar e a partir da moldura de madeira observou a rua movimentada. O vai e vem dos veículos, alguns ônibus, motocicletas, bicicletas e pedestres, também dos cachorros que vivam pelas ruas.
Repentinamente seu celular emitiu o toque de sempre, alertando se tratar de uma ligação. Já sentado na cama, Maurício atendeu a chamada e em seguida escutou a voz feminina calma e centrada.
— Como vai a sua missão, Maurício? — perguntou a voz do outro lado, um misto de preocupação e ansiedade para ouvir a resposta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima