Capítulo 01

A CHUVA DE METEOROS

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Sentado em sua cadeira, Miguel observava o céu cinzento do inverno gaúcho, enquanto uma parte de seus pensamentos estava bem longe dali, no espaço sideral. O jovem não via a hora do tempo correr e chegar a noite para poder, finalmente, observar a tão esperada chuva de meteoros. A outra parte do seu pensamento focava nos problemas em sua casa, tinha que arrumar um pouco de dinheiro para dar a sua mãe, ajudá-la nas contas do supermercado, já que ainda não tinha conseguido um emprego pelo projeto jovem aprendiz.

Miguel era um rapaz comum de dezesseis anos, logo dezessete. Dentro de dois anos acabaria o ensino médio. 

— Miguel Oliveira dos Anjos… — disse a professor com um olhar severo encarando o aluno. — Por favor, pode prestar atenção em minha aula? Eu garanto que você não vai conseguir encontrar as respostas para a prova da semana que vem no lado de fora.

Alguns alunos riram baixinho, enquanto o nosso protagonista se ajeitava em sua classe.

Biologia nunca foi a sua matéria preferida, apesar de gostar da parte que estudavam o reino animal e a evolução das espécies, mas quando iam para outro assunto ele se perdia. Gostava de geografia, ainda mais da parte em que se falavam dos planetas. Perdia noites de sono procurando por teorias de vida fora da Terra ou pesquisando sobre as últimas descobertas nesse campo.

Quando deixou a sala de aula, depois da sineta avisar que era horário de ir embora, Daniela, sua melhor amiga desde a infância, uma adolescente negra de olhos esverdeados, surgiu ao lado de Miguel e logo perguntou:

— Percebi que tu estava bem distraído na última aula, está tudo bem ou é a história da chuva de meteoros de novo? — ficou a espera da reação do amigo.

— Um pouco de ansiedade pela chuva de meteoros e um pouco mais do que isso — o garoto de cabelos negros suspirou. — Eu tenho que arrumar um pouco de grana para levar pra mãe.

Daniela entendeu, em seguida perguntou:

— Mas você não ia receber hoje por aquelas edições de vídeo que fez para uns garotos do terceiro ano?

— Mas não é o suficiente — Miguel respondeu com uma risada um pouco triste. — Eles estão me esperando no portão da escola, me avisaram pelo WhatsApp.

Depois da pouca falação, um silêncio ocupou o lugar. Felizmente já se foi o tempo em que esse tipo de situação era constrangedora entre eles.

Logo o silêncio foi quebrado quando Leandro, amigo dos dois, um jovem descendente de japoneses, apareceu saído do corredor que o levava para a sua sala de aula, haviam ficado em turmas diferentes, para a infelicidade do trio de amigos.

— Estão prontos para hoje, meus amigos? — dizia o japonês espirituoso, ficando entre Miguel e Daniela. — O primo já levou hoje de manhã o seu telescópio para a gente assistir melhor quando os meteoros estiverem passando pela Terra, vai ser fantástico! Até dá para tirar algumas fotos bem maneiras.

Daniela e Miguel sorriram, ficando contagiados com a animação do amigo.

— A gente se encontra lá, cara. Agora eu tenho que ir, até mais tarde pessoal — disse Miguel, se despedindo das suas amizades com um abraço em cada um.

No portão da escola, pegou os quinze reais que havia cobrado para fazer a edição de um projeto em vídeo para alguns garotos do terceiro ano, depois pegou o seu caminho para o ponto de ônibus, fechando o casaco por conta do frio do inverno, que aumentava conforme o sol se punha.

A casa em que Miguel vivia com sua mãe é uma construção bem simples de madeira que se mesclava com partes feitas de tijolo e pouco reboco. Quando entrou em sua casa, percebeu que a sala de estar estava desarrumada, sinal de que sua mãe já havia chegado. Foi até o quarto da mulher onde a pegou descansando depois de um longo dia trabalhando como diarista em casas diferentes. Queria avisá-la que ia sair, mas não iria acordá-la. Deixou um beijo na testa da mãe, se dirigiu para a porta e olhou mais uma vez para aquela pessoa, sorriu e em seguida a fechou.

Fez um lanche rápido e foi para o seu quarto descansar. Não queria estar cansado na hora da tão esperada chuva de meteoros.

Já de noite, quase madrugada, Miguel em cima de sua bicicleta pedalava para o local onde combinara de se encontrar com seus amigos e assistirem ao espetáculo que aconteceria no espaço. Parou em frente a um prédio antigo, um hospital há muito tempo abandonado que em breve seria demolido para a construção de um novo centro médico. 

Enquanto isso não acontecia, era usado por muitos para poder ver o céu mais de perto. Daniela e Leandro já estavam ali, o japonês tinha em suas mãos a maleta do telescópio e Daniela carregava uma bolsa térmica, com alguns sanduíches para beliscarem durante a madrugada.

Eles invadiram a propriedade pública pelos fundos, e pela escadaria chegaram ao último andar onde estava a porta de incêndio que dava acesso ao terraço do antigo hospital.

— Eu adoro vir aqui — disse Daniela maravilhada, olhando para a noite. — O céu daqui fica tão bonito, parece que conseguimos ver melhor as estrelas.

— Vai ser perfeito para assistirmos a chuva de meteoros — comentou Leandro, já montando o telescópio.

Miguel sentou ao lado do amigo, em seguida veio Daniela, deixando a bolsa térmica entre os dois, abriu e pegou um sanduíche, ofereceu um para Miguel que recusou com um balançar de cabeça.

— Está melhor? — A garota negra perguntou depois de engolir uma mordida do seu lanche.

— Sim, um pouco… Não sei. — começou a rir. — É só eu arrumar um emprego que logo tudo vai melhorar, sei que vai — sorriu ao terminar a frase para tentar convencer a amiga.

— Certo — sorriu Daniela.

O tempo foi passando aos poucos e a exaustão cobrou o seu preço. Daniela acabou adormecendo no chão ao lado de Leandro que também não teve paciência para esperar o espetáculo espacial. Miguel, no entanto, estava observando o espaço pelo telescópio, se divertindo como nunca localizando Marte, Vênus, Mercúrio e outros. Quando procurava por Saturno, teve uma surpresa ao encontrar uma chama roxa se aproximando rapidamente da Terra, tirou seus olhos do visor e olhou a olho nu para as estrelas, não viu nada de diferente, tudo estava igual, mas estaria por pouco tempo.

Os meteoros começaram a passar pelo céu escuro de repente, de primeiro Miguel levou um susto, mas começou a rir, aos poucos todos os problemas começaram a desaparecer, ficaram escondidos no fundo da sua mente, seu coração passou a bater mais forte de animação, esse tipo de coisa sempre o empolgava. Um tom de verde mesclado com a cor da noite pintou o céu graças às rochas que passavam raspando no nosso planeta, os olhos do garoto brilhavam ao presenciar aquela cena que ficaria marcada para sempre em sua memória.

— Uau… — sussurrou sorrindo.

A chama roxa voltou a aparecer entre as pedras espaciais que passavam rapidamente pelo planeta. Estava se aproximando, indo na direção de Miguel. O garoto se surpreendeu e começou a dar passos para trás, não queria ser um alvo. Por um instante perdeu o equilíbrio e caiu de bunda no chão. A chama roxa continuou se aproximando, tão perto que Miguel pensou ter visto asas da mesma cor saindo daquilo.

Miguel fechou seus olhos, erguendo um dos braços em uma tentativa frágil de se proteger.

Tudo ficou em silêncio.