O ALVO FÁCIL DOS TUHPANGER

ESCRITA POR: João Paulo Ritter

CLASSIFICAÇÃO:

Depois de sofrerem uma derrota, a primeira desde que se tornaram guerreiros espirituais, os jovens precisavam passar um tempo em paz esfriando suas cabeças. Para isso eles se reuniram na casa de Katarina. Essa era a primeira vez que eles iam conhecer a casa de um deles. Se tratava de uma sala de estar não muito fora do comum, um sofá em frente a uma televisão, a mesa para fazer as refeições alguns metros de distância ao lado da entrada para a cozinha, um tapete no chão, uma poltrona e a estante em que se encontrava o aparelho televisivo com quadros, livros e DVDs.

Estavam presentes: Maria Inês, Miguel e Rafael.

— Por que Joaquim não está aqui? — perguntou Katarina enquanto servia as bebidas para os seus amigos.

— Ele quis ficar treinando na aldeia perdida. — respondeu a guerreira amarela.

— Eu acho que ele não vai voltar para a vida dele ainda… — comentou Rafael.

— Como você sabe disso? — Inês questionou o amigo.

— Ele me disse. Falou que não ia parar de treinar até derrotar o sexto guerreiro espiritual.

Eles ficaram em silêncio. Não tinham mais nada para conversar, claro que a preocupação sobre como lidariam com a missão de agora em diante com a presença do guerreiro laranja existia, entretanto, naquele momento o cansaço era maior do que a preocupação. Necessitavam recuperar suas energias, levantar a autoestima, para poder lutarem novamente num futuro próximo.

Enquanto isso, na Aldeia Perdida, Joaquim se concentrava em seu treinamento. A poeira que subia do chão a cada movimentação dos seus pés voando com o chute contra o boneco de treinamento feito de palha, grudava em seu corpo suado, nos seus músculos rígidos pelo esforço físico. O guerreiro vermelho não era o único a estar treinamento nesse momento.

Na caverna em que Abaçay se encontrava preso, Ubiratã também treinava se utilizando dos soldados sem cérebro. Ainda vestindo seu traje de guerreiro espiritual laranja, o indígena usava sua espada e o seu escudo da sucuri para desferir seus golpes. Uma coisa havia em comum entre Ubiratã e Joaquim, além do fato de estarem treinando para um derrotar o outro, ambos haviam a determinação dentro deles para não falharem em suas missões pessoais. Sabiam que desde o segundo em que seus olhares se cruzaram, no primeiro encontro, uma rivalidade nasceu.

Mais tarde…

As tochas das paredes de terra se encontravam mais fortes, suas chamas estavam mais cheias e altas, principalmente daquelas que se encontravam mais perto de Abaçay. Solaris, Cuca e Ubiratã estavam de frente para o demônio, por causa da luz do fogo, suas sombras se ficavam gigantescas contra a parede. Os três soldados esperavam o discurso do seu mestre.

— Acho que pela primeira vez estou genuinamente orgulhoso. — começou o chefe a discursar. — Pela primeira vez, saímos do campo de batalha sem uma derrota. É hora da gente fazer um novo ataque, pois aqueles miseráveis ainda não devem ter se recuperado do baque que sofreram ontem. Então, eu quero saber se vocês possuem algumas ideias…

— Mestre… — disse Ubiratã se aproximando, ajoelhou em frente ao demônio.

— Diga.

— Eu quero começar atacando os Tuhpanger pelo guerreiro mais fraco, deixando o vermelho cada vez mais sem aliados. Para isso, pensei em começar pelo guerreiro verde. — o homem indígena explicou seu plano.

— Eu posso criar um monstro novo. — disse Solaris em seguida.

— Por que você? — questionou Cuca com um tom de repreensão. — Afinal, foi eu quem trouxe Ubiratã de volta a vida. Eu devo criar o próximo monstro!

— Cale a boca, sua bruxa! Sabe bem que seus monstros são fracos! — gritou o guerreiro do sol.

— Diga isso ao seu último! — rebateu a antiga feiticeira.

— CALEM A BOCA! — gritou Abaçay. — Muito bem… Cuca, crie o próximo monstro e quanto a você, Solaris, fará dupla com Ubiratã. Quero todos alinhados, para juntos derrotarmos os guerreiros espirituais!

No salão das estátuas, Cuca observava com atenção qual iria escolher para dar vida novamente. Solaris entrou no local, seus braços cruzados e passos lentos, mas, ao mesmo tempo, duros, denunciando que a julgava a medida em que se aproximava.

— Qual das suas aberrações você vai escolher, feiticeira? — perguntou o guerreiro do sol, reforçando seu julgamento através do tom da sua voz.

— Estava em dúvida, mas eu já sei! Um monstro que vai atacar o ser humano onde fica mais frágil quando sofre danos. Sabe, Solaris, seres humanos são seres que precisam da companhia de outro, animais fracos que só funcionam em sociedade e em pares… O meu próximo monstro vai acabar com o amor!

Cuca girou seu cajado mágico, ele brilhava mais intensamente conforme girava. Parou deixando a parte superior para cima e dali um raio verde atingiu uma estátua. A primeira vista pareceu que a quebrou em vários pedaços, mas quando o brilho se dissipou, revelou uma criatura meio humanoide, com longos cabelos negros, mãos e pés gigantes e olhos vermelhos.

O guerreiro do sol observou com atenção aquele ser que surgiu em sua frente. Pousou sua mão sobre seu queixo, ainda com curiosidade.

— Espero que dê certo. Ele vai servir para distrair os outros quatro enquanto Ubiratã e eu cuidamos do guerreiro verde!

O trampolim não estava tão longe assim da água, apenas alguns centímetros. Usava sua touca e o seu maiô azul-claro, levantou seus braços para cima e respirou fundo, se jogou na piscina indo até o fundo e rapidamente retornando a superfície, começando a nadar o mais rápido que conseguia. Na plateia, Maria Inês torcia por Katarina, por mais que aquilo fosse apenas um treino do cotidiano da guerreira azul, a amiga queria que a outra desse o seu melhor.

Perto da piscina, o treinador de Katarina cronometrava o seu tempo. Sua expressão não era a das melhores, pois a garota havia caído nos últimos dias e isso o preocupava muito desde que ela decidiu dar um tempo na sua carreira como esportista.

No final do treino, as duas se encontraram na entrada do clube. Katarina já usava suas roupas normais, seu cabelo preso em um rabo de cavalo, uma camisa azul e um short jeans. Inês, por sua vez, uma camisa amarela e por cima um macacão curto.

— Como foi? — perguntou a portuguesa.

— Meu tempo caiu de novo. — respondeu a loira.

— Ah, sinto muito… Tenho certeza de que você vai se recuperar e em breve!

— Obrigada. Vamos direto para a Aldeia Perdida?

— Não, vamos encontrar Miguel naquele parque que tem perto da sua escola. — respondeu a guerreira amarela. — Rafael já está lá com Joaquim e Iara.

— Tudo bem, então, vamos. Eu quero comprar um pastel antes de ir, eu tô morta de fome!

— Boa ideia!

As duas riram, engancharam seus braços e em seguida foram embora de onde se encontravam.

Esperavam pelo Tuhpanger mais jovem sentadas a um dos bancos do parque, entre elas estava uma sacola branca com pastéis e molhos. Comiam com prazer aquela comida, principalmente Katarina que havia passado a manhã toda treinando.

— Como você acha que vamos fazer com aquele cara laranja? — perguntou a loira.

— Não sei… — respondeu Inês negando com sua cabeça, pensativa.

— Deve ter algum poder novo que ainda não usamos, né? Quer dizer… Essas coisas acontecem na ficção.

— Mas isso não é.

— É, mas o Miguel acertou o que ia acontecer. — disse Katarina. — Deve haver alguma coisa que podemos usar contra o guerreiro laranja.

A guerreira amarela suspirou e em seguida falou:

— Espero que sim.

Do outro lado do parque, Miguel atravessava a rua correndo, chegando a grama verde e atravessando o local em uma linha reta sem usar a estrada de paralelepípedos feita especialmente para o trânsito dos pedestres. O adolescente vestia seu uniforme escolar, uma camisa branca com o emblema da escola no coração, mangas azuis escuro e uma calça de abrigo da mesma cor com detalhes brancos.

— Cheguei! — disse o garoto segurando a alça da sua mochila, sorrindo para as duas companheiras de equipe. — Estão comendo pastel?

— Sim, quer um? — Inês ofereceu.

O garoto de dezesseis anos pensou e disse não com sua cabeça, também mexendo suas mãos. Desceu elas até sua barriga, onde bateu levemente.

— Hoje teve almoço da escola, almoço de verdade, então, comi muito…

Katarina e Maria Inês riram, levantaram do banco com a sacola em mãos.

— Então, vamos. — disse a guerreira azul. — Os outros devem estar nos esperando.

Ao se virarem para partir, foram interrompidos por um grito repentino de susto. Sem demorar muito, o único grito se multiplicou e a reação foi única, vários civis correndo para bem longe de um ponto do parque. Quando os Tuhpanger se viraram novamente, viram Cuca chegando ao lado da sua nova criatura.

— Olá, guerreiros espirituais! — disse Cuca parando alguns metros longe deles. — Espero que se divirtam com o meu novo amigo, mas não se preocupem, ele não estará sozinho! — ela ergueu seu cajado. — Soldados!

Uma nuvem se criou acima dela, surgiram do chão, os soldados de Abaçay.

— Boa diversão! — disse a bruxa que desapareceu.

— É hora de trabalhar, gente! — disse Maria Inês tomando a frente, sacando seu celular. Os outros fizeram o mesmo.

— Espírito protetor, invocar! — os três gritaram em união.

Um brilho, da cor de cada guerreiro, os engoliram lhes transformando com seus trajes. Cada um sacou a sua arma quando a luz colorida desapareceu.

— Arco do Boto! — disse a Azul.

— Bastão Réptil! — disse a Amarela.

— Lança Guará! — disse o Verde.

Eles partiram para cima do monstro e dos soldados.

Através do caldeirão da Cuca, na caverna, Solaris e Ubiratã observavam a batalha.

— Droga! O verde está acompanhado. — disse o Laranja. — Precisamos dele sozinho.

— Calma, vamos esperar que os outros apareçam. Assim, entramos em cena e sequestramos o mais jovem. — disse Solaris.

Ubiratã concordou mexendo sua cabeça levemente.

Inês chegou do alto, com seu bastão e acertou um golpe certeiro na cara de um dos soldados. Quando caiu no chão, utilizou sua mão como suporte, usando sua perna como o ponteiro de um relógio e passando a rasteira nos demais oponentes que estava ao seu alcance.

De cima de um banco, a guerreira azul disparava flechas azuis nos seus oponentes que não conseguia se aproximar.

Miguel tentou imitar os mesmos movimentos que a guerreira amarela, porém, ao cair no chão o mais jovem se deu mal por falta de coordenação caiu rolando como uma bola de futebol. Nesse mesmo instante, dois soldados de Abaçay se aproximavam do garoto. O guerreiro verde não tinha muito tempo para pensar no seu ataque, ele ia sofrer as consequências quando as flechas azuis de Katarina acertam os dois inimigos. Miguel voltou a ficar em pé e fez um certinho para a colega.

Enquanto isso, a criatura de Cuca estava aterrorizando os civis, tentando atingi-los com seus raios vermelho e preto. De fato o monstro acabou acertando um casal que, depois de afetados, começaram a brigar ali mesmo no parque. De longe, vendo tudo aquilo acontecendo, a guerreira espiritual do jacaré sacou seu disparador e em seguida saiu correndo na direção desses acontecimentos. Colocou a criatura em sua mira e começou a disparar.

— Esqueci que vocês estavam aqui! — disse o monstro quando foi atingido pelos disparos. Então, levantou seus braços para cima e abriu a sua boca, outro poder começou a ser carregado ali. Uma bola de energia apareceu no espaço entre seus dentes de superiores e inferiores, da mesma cor, vermelho e preto.

Quando a criatura disparou sua esfera, Maria Inês pensou que fosse ser atingida e apenas colocou seu bastão e seus braços como forma de defensa. De repente, ela sentiu uma mão a puxar pela cintura e segurar seus ombros, então, quando percebeu ela não estava mais na frente daquele poder e o guerreiro vermelho se encontrava ao seu lado.

— Tuhpanger vermelho! — disse a amarela.

— Desculpa a demora, tudo bem? — perguntou o líder.

— Sim. A luta começou recentemente. — responde a garota, quando ela olhou para o lado, viu que o guerreiro cor-de-rosa estava com a azul e o verde. Ela voltou a olhar para o vermelho. — Vamos acabar com esse monstro.

Joaquim apenas concordou com sua cabeça.

A espada da onça apareceu nas mãos do guerreiro vermelho e a guerreira amarela segurou com mais firmeza o seu bastão, os dois se prepararam e em seguida se debandaram em direção ao monstro.

Katarina, Miguel e Rafael acabaram de derrotar os soldados, quando se preparavam para irem até onde os seus colegas estavam batalhando, foram surpreendidos por um portal que se abriu alguns metros a frente do trio. Dessa passagem surgiu Solaris e o guerreiro laranja, nessa ordem.

— Droga! Quando a gente acha que as coisas vão ficar fáceis. — disse o guerreiro da Harpia. — Eu cuido do guerreiro laranja, vocês dão conta do Solaris.

— Certo! — disseram os guerreiros azul e verde.

— Nada disso! — Solaris falou imediatamente. Girou seu cajado que brilhou em uma forte luz alaranjada, o objeto se dividiu em dois e se transformou, em cada uma das mãos de Solaris, em uma espada e um escudo ao estilo medieval. Ele lançou um ataque com sua lâmina contra o guerreiro cor-de-rosa e a azul, uma meia-lua alaranjada foi na direção dos dois e ambos desviaram para o mesmo lado, deixando Miguel sozinho.

Aproveitando a abertura, o guerreiro laranja partiu para cima do verde, enquanto Solaris se ocupava em manter ocupados os outros dois.

— Agora somos nós dois, verde! — disse o guerreiro de dois animais sacando sua espada da puma.

— Te-tem ce-certeza de que não quer ir atrás do vermelho? — perguntou o lobo guará gaguejando e com sua voz tremendo.

Em resposta, Ubiratã avançou para cima, levando sua espada de cima para baixo em um golpe rápido que cortava o vento. Miguel conseguiu se esquivar em um pulo para o lado contrário e em seguida, com sua lança, tentou acertar a parte da lâmina da espada do seu oponente. Entretanto, Ubiratã conseguiu se defender com um rápido movimentando, descendo e subindo, lançou sua perna na direção do outro e lhe acertou um chute nas costelas.

— Ah, droga! — disse o guerreiro verde com suas mão sua mão na região em que foi golpeado.

Então, para finalizar o seu ataque de vez, o guerreiro laranja preparou sua espada a encaixando dentro do seu escudo de sucuri. O olho de réptil do escudo emitiu um brilho vermelho assustador.

— Chegou o seu fim, guerreiro verde… — segurou a proteção da sua arma branca e retirou a lâmina do escudo, a espada brilhava intensamente com uma cor laranja e em seguida uma energia roxa surgiu ao seu redor como pequenos raios de energia. — FÚRIA DOS ESPÍRITOS ANIMAIS! — gritou Ubiratã enquanto descia sua espada para finalizar o mais novo.

Miguel apenas usou seus braços em uma defesa primitiva contra aquele poder.

Antes que Ubiratã conseguisse acertar o seu ataque final no guerreiro verde, a espada da onça-pintada atingiu seu braço, parando no meio aquele golpe e fazendo com que, por consequência, o guerreiro dos dois animais deixasse sua espada cair no chão.

— Não tão rápido! — disse Joaquim ficando frente a frente com seu oponente.

— Como? — se perguntou o laranja. Mexeu seu punho e por mágica, a sua espada retornou as suas mãos. — Hoje eu não quero lutar com você, guerreiro vermelho!

— Mas eu quero lutar com você, laranja! — disse Joaquim segurando sua espada com mais firmeza, mantendo seu olhar fixo em seu oponente. Miguel estava logo atrás, o guerreiro verde não sabia o que fazer.

Ubiratã sabia que seu plano havia falhado, talvez um ataque daquele tipo tenha sido mal planejado. Era momento de recuar, recuar para pensar em outro ataque que encurralasse o guerreiro verde sem deixar espaços para ele se defender ou fugir. Para acabar logo com aquilo, Ubiratã levantou sua mão e estalou seus dedos. Um portal e sugou o exército de Abaçay para dentro da caverna novamente, deixando apenas os Tuhpanger ali na praça.

— Ele foi embora… — disse Miguel logo atrás de Joaquim.

— Sim, mas ele vai voltar. — disse o líder em seguida ficou de frente para o mais novo. Os demais guerreiros espirituais se aproximaram para saber se estava tudo bem com a dupla.

Depois de conferirem se as coisas estavam bem, os cinco guerreiros retornaram a aldeia perdida. Iara os esperava com um banquete servido para os mesmos.

— Por que vocês acham que ele saiu daquele jeito da batalha? — perguntou Rafael depois de passar alguns minutos em silêncio, pensando.

— Ele parecia estar atrás do Miguel… — respondeu Maria Inês.

— Atrás do Miguel? — perguntou Iara surpresa. — Realmente, agora que você disse… Parecia mesmo que ele estava atrás dele…

— Atrás de mim? — perguntou o guerreiro verde, surpreso com a fala dos três e, ao mesmo tempo, com muito medo. — Por quê?! Eu sou o mais fraco daqui… Vocês sabem!

— Ele deve ter um plano e por isso, vamos precisar proteger o Miguel. — disse Joaquim olhando para os demais guerreiros espirituais. — Todos de acordo? Ele deve estar querendo vir atrás da gente sozinho, dessa vez o plano falhou, mas se for isso mesmo… Ele vai querer pegar o Miguel desprevenido.

O mais jovem guerreiro ficou observando os seus amigos e colegas de equipe conversarem sobre como o inimigo viria atrás dele e como eles poderiam protegê-lo. O rapaz ficou feliz com a preocupação do grupo em protegê-lo, mas também começou a sentir um peso nas suas costas e uma voz na sua cabeça crescendo, ficando mais alto, lhe acusado de ser um peso para aquela equipe.

つづく…

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