Katarina tem uma vida dupla?

SÉRIE DE: João Paulo Ritter

CLASSIFICAÇÃO: LIVRE

Subiu a escada até o alto, vestia seu maio e a sua touca bem colocada para prender seus cabelos. Quando chegou à ponta da tabua pulou três vezes e na quarta vez foi o momento em que se jogou com tudo na água, girou no ar — nesse momento os seus colegas que estavam assistindo comemoraram aquele movimento com gritos de felicidade. — Quando caiu na água foi até o fundo e retornou a superfície, nadou rapidamente até o outro lado da piscina.

Muito antes de ter se tornando uma guerreira espiritual, Katarina já havia se tornando uma eximia nadadora. Seu treinador a ajudou a sair da piscina e em seguida lhe entregou uma toalha limpa.

— Muito bem, Katarina, mas se você quiser chegar as olimpíadas vai ter que melhorar mais um pouco. Vamos ter que aumentar seu treinamento aí. — disse o treinador.

— Aumentar?

— Sim, aumentar. Você vai ter que começar a vir de tarde também, depois das suas aulas e treinar até o anoitecer.

— Treinar até o anoitecer.

— Vai me dizer que estará ocupada?

Sim, ela estaria ocupada treinando seus golpes de luta na aldeia perdida e também lutando contra os monstros enviados por Abaçay. Quando Katarina começou ser uma Tuhpanger não pensou que teria que deixar sua carreira de nadadora de lado, porém ela não poderia desistir daquele sonho tão facilmente assim. Estava tão perto de conseguir o que tentou sonhou. Daria um jeito de conciliar a sua vida de atleta, sua vida de estudante e os seus momentos de heroína quando estivesse batalhando contra o exército de Abaçay.

— Então, o que você tem para me dizer? — questionou o treinador visivelmente sem paciência.

— Eu vou conseguir, pode confiar em mim. — respondeu a garota loira cheia de confiança por fora e cheia de incertezas por dentro.

Cuca estava analisando as estátuas da caverna, escolheria o próximo monstro que atacaria e tentaria derrotar os guerreiros espirituais em breve. Tinham muitas ótimas opções, mas teria que ser certeira para que os Tuhpanger caíssem de vez. A feiticeira sabia que não poderia decepcionar o seu mestre, pois corria o risco de ser apagada da existência se a derrota anterior se repetisse. Lentamente se aproximou da estátua que lembrava um homem meio peixe.

— Você vai ser o próximo! — apontou seu cajado para a estátua e os raios envolveram a pedra em forma humanoide, aos poucos a estátua foi dando lugar a um monstro que ao mesmo tempo em que lembrava um peixe trazia vários detalhes humanos.

— Estou vivo! — gritou a monstruosidade.

— Sim, você está vivo. Ipupiara, você foi trazido ao mundo novamente para servir ao nosso mestre Abaçay mais uma vez.

— Abaçay está vivo? — perguntou Ipupiara surpreso.

— Sim, precisamos que você derrote os protetores de Pindorama!

O ser meio peixe e meio humanoide bateu seus punhos com garras e em seguida soltou uma risada recheada de satisfação. Disse:

— Pode deixar comigo, Cuca! Os animais espirituais vão se arrepender de terem juntado uma nova equipe de Tuhpangers.

— Ótimo. Mas antes que você vá, venha comigo.

A feiticeira levou Ipupiara até o seu salão, onde seu caldeirão se localizava e lhe mostrou a imagem da guerreira azul.

— Essa é a protegida do espirito do boto, uma garota que gosta muito de nadar, mas parece que para ela entrar em uma competição moderna vai ter que se dedicar mais a isso do que ser uma tuhpanger, então, eu quero que comece desmoronando a confiança dela.

— Como vou fazer? — o monstro questionou confuso.

— Isso é um problema seu. — após dar de ombros Cuca foi embora, deixando Ipupiara pensativo.

Quando a perna de Inês voou em direção de Miguel, o guerreiro verde conseguiu desviar se abaixando e, então, deu uma rasteira na guerreira amarela que caiu de costas no chão de terra. Ao ficar de pé novamente, Miguel tentou acertar um ataque na mais velha que segurou o golpe do mais novo com seus pés e abriu sua guarda, Inês acertou um belo chute no peitoral de Miguel e assim o jogou contra a parede. Inês levantou do chão com um pulo.

— Já vai desistir? — disse a tuhpanger da cor amarela em um tom de desafio. — Nosso treino tem que mostrar resultado, assim você não vai ter nenhum.

— Vamos ver… Claro que não! — o tuhpanger verde riu e mais uma vez se colocou em posição de ataque, os dois voltaram a batalhar.

Do outro lado da aldeia perdida, Rafael se encontrava treinando com um boneco de madeira, ainda precisa se acertar com seu espirito animal por mais que seu preconceito sobre a cor já havia sido vencido. Somente Joaquim e Kataria que ainda não haviam chegado para o treinamento diário e isso estava deixando Iara preocupada, pois qualquer falha no equilíbrio entre os protetores espirituais poderia acarretar em uma vitória para Abaçay.

— Será que Joaquim e Katarina vão demorar? — perguntou a indígena em voz alta.

— Daqui a pouco ele estão aí. — disse Rafael após dar uma pausa em seu treino.

— Não consigo deixar de me preocupar… — de repente Joaquim entra correndo, mas a protetora da cor azul não estava ao seu lado. — E Katarina? — perguntou Iara rapidamente.

— Ela não vem. — respondeu Joaquim normalmente.

— Como assim? — Iara já estava nervosa.

— É, como assim a Katarina não vem treinar? — perguntou Inês se aproximando com Miguel logo atrás, o adolescente também fez um questionamento:

— Ela tá doente?

— Não, ficou treinando na piscina para as competições. O treinador dela disse que se ela quisesse chegar as olímpiadas precisaria treinar mais do que já estava.

— Mas Katarina também tem um dever com Pindorama. — disse Iara.

— Mas é o sonho dela. — Joaquim falou se aproximando do outro boneco de madeira para treinar.

A fonte de água da aldeia começou a borbulhar, todos sabia o que significava, algum monstro do exército de Abaçay estava atacando. Rapidamente os guerreiros presentes no local correrem em direção a fonte com a companhia de Iara. Como se a água fosse uma tela de televisão, todos presentes viram o monstro peixe e humanoide atacando pessoas no centro do Rio de Janeiro, no Largo da Lapa.

— É o Largo da Lapa, mas o que é essa coisa? É um peixe? — perguntou Miguel com certa entonação de nojo em sua voz.

— Ipupiara. Um antigo ser metade humano e metade peixe, assim para as criaturas que deram origem ao meu nome, mas diferentes das Iaras, um Ipupiara nunca foi confiável e no passado lutaram ao lado de Abaçay. — respondeu o espirito indígena.

— Parece que continua lutando. — sussurrou o líder. — Precisamos correr até lá.

— Vou mandar uma mensagem para o grupo, assim Katarina vai saber o que está acontecendo.

— Boa ideia, Inês. — disse Joaquim. Ele olhou seriamente para os seus amigos e companheiros de batalha. — Estão prontos?

— Sim! — os outros três responderam em conjunto, como um coral em perfeita sincronia.

Cada um pegou seus respectivos celulares e foram até a tela em que se encontrava o aplicativo de transformação. Gritaram “Espíritos protetores, invocar!”.

Ipupiara segurou com força o pulso de um homem que tentou fugir dele, gritando o humano tentou lhe acertar um soco em uma desesperada tentativa de fugir, todavia o monstro humanoide metade peixe segurou seu punho e em seguida abriu sua imensa boca. Engoliu aquele homem com apenas uma bocada. Absorvendo sua energia vital que foi enviada para o seu mestre, Abaçay.

— Faz tempo da última vez em que me diverti tanto assim com outros mortais! — dizia o monstro em voz alta. — Onde estão seus protetores? Parece que os Tuhpnagers decidiram fugir.

— Vai sonhando, cabeça de bagre! — gritou o guerreiro da onça-pintada se aproximando outros três.

— Somente quatro? — perguntou Ipupiara rindo. — Patéticos.

— Você não é o primeiro que diz isso. — disse o verde.

— Quatro são mais do que suficientes para derrotar você! — gritou a amarela.

— É o que veremos! — jogou para cima sementes que ao caírem no chão se transformaram em peões. — Vamos batalhar!

Cada um dos guerreiros sacara suas armas e correrem em direção do exército de criaturas, preparados para a batalha.

Inês acertou um belo de um chute no peitoral de um dos peões com quem brigava, a intensidade que acertou seu oponente foi maior da vez que acertou seu colega de equipe mais cedo no treinamento. Com seu bastão acertou o individuo que iria ataca-las pelas costas e rapidamente sacou sua arma laser, atirou no outro que se aproximava pela direita. Voltou a lutar corpo a corpo.

Com toda a vontade do mundo, o guerreiro cor-de-rosa acertava seus oponentes com sua marreta. Rafael sempre era bem certeiro em seus ataques, mas quando tinha percebia que sua arma não faria um ataque rápido o bastante sempre conseguia usar seus golpes de capoeira. Girou sua marreta acertando vários peões ao mesmo tempo, então, deu um salto no ar e quando caiu no chão acertou sua arma no chão, causando assim um tremor que derrubou todos seus inimigos que estavam por perto.

Por ser mais novo, Miguel sempre tinha mais dificuldade na hora da batalha, entretanto estava se saindo muito nessa luta em questão. Caiu alguns tombos para ser bem sincero, mas rapidamente conseguia levantar e revidar os ataques sofridos com o auxilio de sua lança. De vez em quando usava a parte errada para atacar, mas rapidamente entendia o que estava acontecendo e voltava a atacar com a lâmina e não com a cabeça de lobo que ficava na bunda da sua arma.

Como sempre, o guerreiro vermelho ficou com o papel de lutar contra o monstro do dia. Sempre com a sua espada em mãos, Joaquim tentava acertar ataques em seu oponente. Apesar de não ter uma espada ou um cajado como o oponente anterior, Ipupiara usava suas grandes garras como lâminas afiadas. Conseguiu acertas ataques com essas garras contra o tuhpanger vermelho e fazendo com que faíscas soltassem do seu corpo só que Joaquim também conseguiu contra-atacar, retirando faíscas do corpo de Ipupiara.

Ergueu sua espada vermelha para o alto e em seguida a leva rapidamente em direção de Ipupiara, porém o vilão consegue segurar o golpe somente com as suas garras. Com força o monstro empurrou o herói colorido para trás e lhe acertou vários golpes com suas garras. Joaquim caiu no chão por causa do ataque sofrido, entretanto o guerreiro rosa acertou um chute no peitoral do monstro metade peixe e em seguida a amarela e o verde acertaram com suas armas brancas mais golpes do mesmo.

— Seus idiotas. Vocês acham que podem me deter?

A boca de Ipupiara foi ficando, aos poucos, gigantesca novamente e isso fez com que os nossos heróis coloridos recuassem um pouco para trás.

— Mas o que é isso? — o vermelho perguntou em voz alta.

Então em questão de segundos o líder da equipe foi engolido e uma energia vermelha percorreu o corpo de Ipupiara.

— Ele engoliu o vermelho! — gritou Inês desesperada.

— O que vamos fazer? — Miguel perguntou também desesperado.

— Vocês não podem fazer nada!

Com uma velocidade além da capacidade humano, o monstro atacou os nossos heróis coloridos com vários golpes. Depois de uma explosão de faíscas, os Tuhpanger regressaram as suas formas civis.

— Parece que eu ganhei essa rodada… — disse Ipupiara desaparecendo como areia jogada ao vento.

Katarina terminou de tomar sua ducha no chuveiro do banheiro feminino do local onde treinava, então, retirou seu celular da bolsa em que levava suas roupas e ficou assustada imediatamente quando percebeu as mensagens no grupo dos Tuhpanger. Rapidamente deixou o local, nem parou quando seu treinador a chamou, sabia precisava chegar a aldeia perdida o mais rápido possível para saber o que tinha acontecido na batalha que perdeu.

Correndo a garota loira chegou a aldeia. Seus amigos estavam sentados e sendo tratos por Iara, uma pequena mesa com ervas e curativos se encontrava no centro da aldeia perdida.

— O que houve? — perguntou Katarina confusa.

— Levamos uma surra feia. — respondeu Miguel.

— E o Joaquim? Ele tá bem?

— Não. — suspirou Iara se aproximando da sua guerreira azul. — Ele foi capturado pelo o monstro da semana. Infelizmente precisamos de você e não estava lá, Katarina.

— Eu estava treinando. — disse Katarina em sua defesa.

— Mas agora você é uma guerreira espiritual e precisa agir como uma. Precisa decidir se sua carreira esportista é mais importante do que sua missão. — ao mesmo tempo que a voz de Iara tinha um tom de compreensão também existia ali algo severo.

— O que acontece se eu escolher minha carreira? — perguntou Katarina preocupada.

— Vamos fazer um ritual para que o golfinho escolha outra guerreira, infelizmente isso vai nos enfraquecer, mas será necessário. — em seguida a indígena se afasta de Katarina para voltar a cuidar dos seus outros guerreiros.

O que Katarina faria agora? Precisaria desistir da sua carreira como atleta até que essa guerra contra Abaçay acabasse, mas isso a deixaria atrasada em relação aos outros atletas.

Havia chegado a sua escolha de Sophia.

つづく。。

CONTINUA…

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