Centro comunitário em perigo

ESCRITO POR: João Paulo Ritter

CLASSIFICAÇÃO: LIVRE

— Preciso acertar no monstro dessa vez. O mestre não vai permitir que continue perdendo para os Tuhpangers! — Cuca falava consigo mesmo enquanto analisava as outras estátuas do arsenal de monstros da caverna.

— É melhor ter mais sorte dessa vez, bruxa. O mestre Abaçay já está começando a perder a paciência dele! — disse Solares entrando na caverna.

— Mesmo que alguns monstros tenham perdido as batalhas, ainda assim conseguimos captar energias para fortalecer o mestre. — rebateu a bruxa.

— Continue perdendo que em breve Abaçay irá se livrar de você.

Em seguida o cavaleiro do sol deixou a caverna.

— Droga! — exclamou Cuca. — Já sei qual monstro eu vou acordar dessa vez…

A feiticeira caminhou até uma estátua que lembrava um macaco esguio, então, com seu cetro mágico ela trouxe aquele monstro a vida novamente.

— Kampa-Ínki ao seu dispor! — disse o monstro macaco se ajoelhando em frente a feiticeira.

— A sua missão é clara, monstro. Derrotar os guerreiros espirituais Tuhpanger e recolher energia humana para fortalecer Abaçay!

— Abaçay voltou a vida?

— Sim, depois de várias décadas adormecido o mestre voltou.

— Então pode deixar que vou acabar com esses Tuhpanger e trazer energia ao mestre dos mestres! — Kampa-Ínki falou com animação.

— Guerreiros espirituais! Tem um monstro atacando o centro da cidade, se trata de Kampa-Ínki, tomem cuidado com ele, pois além de ser bastante ágil esse monstro também consegue entrar na mente humana deixando as pessoas adormecidas dentro de um pesadelo.

Quando os cinco guerreiros, já transformados, chegaram ao local em que Kampa estava atacando, presenciaram o monstro colocando o quinto civil para dormir no meio da praça. Ao avistar os seus inimigos, o monstro macaco rapidamente fixou seu olhar neles.

— Meus alvos principais! — gritou Kampa-Ínki. — Quem vou atacar primeiro, hein? Vejamos aqui…

O monstro jogou sementes para o alto e quando chegaram ao chão, se transformaram em um pequeno grupo de peões.

— Guará vem comigo! — disse o líder da equipe. Os dois saíram correndo na direção em que o monstro macaco fugiu.

Os outros três ficaram no campo de batalha com os peõs.

— Marreta da Harpia — gritou o guerreiro rosa enquanto girava acertando vários peões ao mesmo tempo, então, ele deu um pulo para o alto e preparou sua marreta. Quando golpeou o chão, uma energia rosa explodiu acertando os oponentes que estavam a sua volta.

Enquanto isso, a guerreira azul utilizava rapidamente as flechas de laser que saiam do seu arco e ali perto, a guerreira amarela derrubava cada peão com seu bastão. Até que os três se uniram com os poucos inimigos que sobraram.

— Restaram poucos. — disse a amarela.

— Então vamos acabar com eles no braço! — disse a guerreira azul com muito animação.

Então, o guerreiro espiritual da Harpia girou em um golpe de capoeira, acertando em cheio o pescoço do que estava mais perto. Com aquela deixa as outras guerreiras começaram a batalhar sem o uso de suas armas.

— Espada da Onça! — gritou o guerreiro vermelho quando acertou um golpe em Kampa-Ínki.

— Droga!

O monstro caiu de joelhos no chão, parecia estar derrotado. Os dois guerreiros que estavam ali estranharam, então, o guerreiro verde se aproximou do vermelho.

— Isso foi fácil demais… — sussurrou o lobo guará.

— Eu sei. — respondeu a onça vermelha.

Aos poucos o monstro desapareceu, como se nunca tivesse existido. Confusos, os rapazes tentavam entender o que havia acontecido, todavia nenhuma teoria surgia em suas cabeças. Nesse mesmo momento os outros três chegaram ao local.

— O que houve? — perguntou Rafael.

— Ele sumiu. — respondeu Miguel. — Como se nunca tivesse existido.

— Mas isso, com certeza, deve ser apenas um golpe dele. Precisamos ir até a aldeia perdida falar com Iara!

Os demais concordaram.

— Ele sumiu? — perguntou Iara confusa.

— Sim, logo depois do ataque que eu fiz. — respondeu Joaquim. — Foi como se ele nem fosse real.

— Talvez ele não fosse. — questionou a indígena. — Vejam bem, como eu já disse, esse monstro tem a habilidade de entrar na mente das pessoas. Ele ainda está vivo e vai voltar em breve.

— Vamos procurar por ele? — perguntou Rafael.

— Não, ele não é fácil de se encontrar. Vamos voltar as nossas rotinas, quando ele aparecer vocês entram em ação e enquanto isso, eu vou procurar uma maneira de derrotá-lo.

Os jovens voltaram para suas vidas até momento do monstro retornar.

Miguel aproveitou esse acontecimento para voltar ao centro comunitário em que treinava judô. Frequentava aquele lugar desde que era criança e, agora terminando o ensino médio, estava sendo considerado um dos nomes do futuro do esporte no Brasil. Pensava em começar a dedicar totalmente sua vida para o judô, mas queria primeiro terminar o ensino médio e cursar educação física em alguma universidade federal.

Quando chegou ao centro comunitário se deparou com Marcelo, uma jovem garota que ajudava a cuidar da parte administrativa conversando com dois homens de terno. Assim que esses homens deixaram o lugar, Miguel se aproximou de Marcela e perguntou o que havia acontecido ao notar o semblante entristecido em eu rosto.

— Acho que infelizmente dessa vez vamos ter que vender o prédio, Miguel. As dívidas estão aumentando cada vez mais e acabamos de receber um ultimato.

— Não, isso não pode acontecer. Eu cresci aqui.

— Infelizmente, é a verdade…

Marcela deixa o rapaz sozinho, pensativo.

— Meu Deus, não pode ser. Isso deve ser um pesadelo.

— Como ele está? — perguntou Joaquim sentado ao lado do corpo do guerreiro verde.

Miguel estava inconsciente, estava sendo mantido em um aparelho que media seus batimentos cardíacos.

— Ele tá instável. — respondeu Katarina analisando o monitor. — Mas eu ainda me preocupo porque não sabemos o que está acontecendo em sua mente.

— Iara disse que se ele morrer durante seu pesadelo, ele vai morrer na vida real. — disse Rafael.

— Esperamos que o pesadelo dele não evolva nada com a vida e a morte.

Iara volta segurando um gigantesco e velho livro.

— Encontrei esse livro antigo que, em um capítulo, fala sobre Kampa-Ínki. Aqui diz que ele deve estar sugando a energia vital das pessoas adormecidas para alimentar a si mesmo ou alguém.

— Abaçay. — deduziu Joaquim.

— Isso mesmo. — Iara abriu o livro. — A única maneira de libertar essas pessoas é derrotando o monstro, mas temos que fazer isso até o final do dia se não todos que caíram no seu poder especial vão morrer.

— Temos menos de 24horas. Não é a primeira vez que corremos contra o tempo. — comentou Katarina.

— Vamos procurar por esse Kampa. — disse o líder determinado.

— Preciso achar uma maneira de ajudar o centro comunitário! — pensou Miguel quando entrou em seu quarto. Se jogou na cama, fixou seu olhar no teto. — Talvez um bazar? Não, isso nunca dá certo.

No dia seguinte, depois de sair da escola e antes de ir para o centro comunitário, Miguel passou na aldeia perdida, lá encontrou Joaquim e Katarina trabalhando ao lado de Iara para achar uma maneira de derrotar o monstro.

— Não encontraram nada? — perguntou o guerreiro verde.

— Ainda não Miguel, mas estamos trabalhando para isso. — respondeu o líder dos guerreiros espirituais.

— Eu posso ajudar. Posso fazer o quê? Começo por onde? — Miguel se ofereceu.

Katarina, sorrindo, pousou a mão sobre o ombro do mais jovem.

— A gente já está com ajuda o suficiente. Faça como Maria Inês e o Rafael, vá cuidar um pouco dos problemas pessoais enquanto a gente busca uma maneira de derrotá-lo. Você é mais útil longe daqui.

Miguel sentiu aquilo como um golpe, mas tentou relevar porque levou em consideração os nervosos depois daquela estranha batalha no dia anterior. Não falou mais nada e se afastou do grupo, agora tinha que resolver seu problema com a venda do centro comunitário.

— Não, isso não é nada bom… — sussurrou Iara observando as estátuas dos animais protetores. — Eu tenho que avisar os outros!

Então, a indígena entrou em contato com os seus guerreiros espirituais através da ligação que existia entre eles e os animais protetores. Avisou que o elo entre Miguel e o Lobo Guará havia começado a enfraquecer e que isso era um sinal de que o jovem estava morrendo em seu sonho ou, então, estava sendo forçado a ficar afastado do seu protetor.

— Não se preocupe, Iara, nós vamos encontrar esse monstro! — respondeu Katarina quando a mestra terminou de falar.

— Vamos ligar para o Joaquim, ver se ele e Rafael tiveram mais sorte. — disse Maria Inês.

— Certo. — a guerreira azul entrou em contato com o líder. — Joaquim? Vocês tiveram mais sorte?

— Não, mas estamos indo para Copacabana dar uma olhada.

— A gente encontra vocês lá! — respondeu Katarina. — Vamos, Inês!

Os quatro se encontraram em frente a praia, porém tudo parecia tranquilo. Nem um sinal de ataque de qualquer monstro até o momento em que Kampa-Ímpi aparece no meio dos civis que estavam na areia, começou a atacar sem qualquer piedade daqueles humanos. Os quatro jovens guerreiros ouviram os gritos e foram atrás, quando chegaram deram de cara o monstro macaco.

— Achamos! — disse Joaquim animado.

Kampa olhou em direção dos Tuhpanger.

— Ah! Os Tuhpanger! Que bom, estou pronto para capturar outro guerreiro espiritual!

— É isso que vamos ver, prontos? — Joaquim sacou seu celular com o aplicativo de transformação aberto. — Espíritos protetores, invocar!

Cada um é engolido por uma luz da sua respectiva cor e quando ela se dispersa, já estão transformados em guerreiros espirituais.

— Espirito protetor da Harpia, Tuhpanger Rosa!

— Espírito protetor do Boto, Tuhpanger Azul!

— Espirito protetor do Jacaré, Tuhpanger Amarela!

— Espírito protetor da Onça-Pintada, Tuhpanger Vermelho!

Todos juntos gritam:

— Protetores de Pindorama, Guerreiros Espirítuais Tuhpanger!

— Um monte de bobagem! — gritou Kampa-Ímpi jogando sementes para o alto, fazendo um pequeno exército de peões nascer.

— Eu cuido do macaco. — disse o líder.

— Toma cuidado. — pediu a guerreira azul.

— Pode deixar…

O guerreiro vermelho sacou a sua espada e partiu para um ataque direto, o monstro tentou contra-atacar, mas felizmente, o vermelho desviou a tempo daquele golpe e conseguiu acertar sua espada contra o corpo do monstro.

Quando chegou ao centro comunitário, Miguel teve uma terrível surpresa. Alguns homens uniformizados estavam levando a mobília e equipamentos, Marcela observava tudo com tristeza em seu olhar.

— O que está acontecendo? — perguntou Miguel ao se aproximar da garota.

— Eles desistiram, Miguel. Estão levando tudo, o centro comunitário fechou.

— Não, não pode ser… — disse o guerreiro verde. — Eles não podem levar nada! Não.

O jovem tentou para os homens, mas acabou atravessando o corpo deles como se eles fossem fantasmas ou hologramas. Percebeu que tudo havia parado, inclusive Marcela. Pareciam estátuas.

— O que está acontecendo? — Miguel se perguntou.

De uma explosão, surge Kampa-Ímpi rindo.

— Você acaba aqui, Tuhpanger Verde! — gritou o monstro.

— É o que veremos! — Miguel saca seu celular e entra direto no aplicativo de invocação. — Espirito protetor de Lobo Guará, Invocar! — gritou, mas a transformação não aconteceu.

Antes de falar qualquer coisa ou esboçar alguma reação, o monstro macaco tratou logo de atacar. Acertando o peitoral de Miguel em cheio.

— Ah não! — disse Iara assustada ao ver os níveis vitais de Miguel ficarem cade vez mais baixos. — Tuhpanger, guerreiros espirituais! Atenção, Miguel está ficando cada vez mais fraco! Se não derrotarmos Kampa-Ímpi logo, o guerreiro verde vai morrer!

— Não! — gritou a guerreira amarela enquanto batia em um dos peões. — Não podemos deixar isso acontecer, pessoal!

— E não vamos. — respondeu o guerreiro rosa finalizando um inimigo.

— Vamos acabar com isso logo e ajudar, o vermelho! — disse a guerreira azul com determinação.

Com um rápido golpe de chutes, a Tuhpanger azul finalizou seu oponente e, ao lado dos outros dois, correu em direção ao Tuhpanger da Onça-Pintada. Os três sacaram suas armas.

— Flechas do boto! — gritou a azul disparando flechas de energia azul que acertaram Kampa-Ímpi em cheio no peitoral, fazendo com que faíscas voassem.

— Martelo da Harpia! — O guerreiro rosa caiu do céu, acertando o monstro em sua cabeça.

E logo em seguida vem a guerreira amarela, com seu bastão.

— Batão do Jacaré! — seu golpe atravessou o corpo do monstro, mais faíscas explodiram.

O líder preparou a sua espada, ela se carregou em uma intensa energia vermelha e laranja.

— Ataque final, garra de onças!

Quando o Tuhpanger vermelho lançou sua espada para o ataque, a energia engoliu Kampa-Ímpi, fazendo com que ele explodisse.

— Isso! — gritou o líder em comemoração.

No mesmo momento, na Aldeia Perdida, Miguel acordou, deixando Iara mais aliviada.

— Você acordou! — comemorou a indígena.

— O que houve? — perguntou Miguel confuso.

— Você estava preso em um sonho, Kampa-Ímpi fez isso com você. Agora que ele foi derrotado, você está livre da sua magia…

— Era um sonho? — perguntou Miguel aliviado. Iara respondeu com um balançar de cabeça. — Pelo menos uma coisa boa…

— Malditos Tuhpanger! — gritou Cuca aparecendo magicamente no local da batalha com seu cetro mágico. — Agora é minha vez de contra-atacar! Reviva monstro! Reviva!

Com a sua magia, Cuca trouxe Kampa-Ímpi de volta a vida, mas em um tamanho gigantesco. Ela desapareceu em seguida.

— É hora dos espíritos protetores! — disse o líder.

Os quatro guerreiros presentes levantaram suas mãos para cima e gritaram: “Espíritos Animais, desçam!”

Um portal colorido se abre no céu e aos poucos os animais protetores de Pindorama vão descendo e se transformando em robôs gigantes conforme tocam o chão. Em seguida aparece o Lobo Guará com Miguel — já transformado — no topo de sua cabeça.

— Vamos acabar com esse cara, galerinha! — gritou o Tuhpanger Verde.

Os outros subiram em seus respectivos animais.

— Acham que podem me deter com esses brinquedos? — gritou Kampa-Ímpi tentando acertar um soco na Harpia.

— Nem vem! — a amarela usando seu robô para morder a perna do monstro macaco.

Em seguida o Lobo Guará atacou com suas garras, seguido da Harpia que lançou suas penas afiadas contra o monstro.

Kampa-Ímpi estava desorientado. O Boto aproveitou essa chance para acertar um jato de energia azul em seu peitoral, quando atingindo ele gritou de dor.

— Minha vez de finalizar! — gritou o Tuhpanger Vermelho. — Energia carga total! Onça-Pintada, vamos acabar com esse monstro!

O robô da Onça-Pintada abriu sua boca, um gigantesco jato de energia avermelhada saiu, destruindo completamente aquele monstro.

— Mais uma vitória… — sorriu Iara na Aldeia Perdida.

Cuca gritava de dor, Abaçay a deixou presa dentro de um campo de dor criado por ele mesmo. A feiticeira gritava desesperada. Quando o castigo foi, finalmente interrompido, Cuca caiu de joelhos no chão.

— Você não vai fazer nada da próxima vez, me entendeu? Até encontrar um bom plano para destruir os Tuhpanger! Se não quiser mais uma série de castigos… Solares! — o guerreiro do sol se aproximou do seu líder. — Você vai encontrar o próximo monstro…

Abaçay deixa a sala de estátuas.
— Eu lhe avisei, bruxa… — Sussurru Solares que em seguida também deixou a sala.

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