A Puma e a Serpente

HISTÓRIA DE: João Paulo Ritter

CLASSIFICAÇÃO: LIVRE

Daquele lugar era possível ter uma visão surpreendente, uma visão que qualquer humano poderia sonhar, mas muitos não poderiam realizar. Parecia enxergar o mundo de cima mesmo que a Aldeia Perdida não ficasse flutuando no céu do continente, mas, sim, em uma dimensão separada. Havia um lugar especial que, desde a chegada dos cinco Tuhpanger, era o mais calmo entre os cantos da Aldeia Perdida.

Desde então, Joaquim usava essa região especial, o topo de uma árvore que ao lado das outras formava um suporte natural de galhos com força o suficiente para segurar o peso do corpo de qualquer ser humano. Como Maria Inês, a guerreira amarela, sabia que o guerreiro vermelho estaria ali em cima, por esse motivo levou para ele um prato de comida.

— Achei que estaria com fome. — sorriu a portuguesa.

Joaquim olhou para baixou, sorriu e em seguida desceu com um pulo.

— Obrigado. — agradeceu e pegou o prato, sentou no chão para comer.

A guerreira amarela continuou o observando, precisava perguntar porque já havia percebido, desde a semana passada, que alguma coisa em sua vida pessoal havia acontecido.

— Por que você escolheu não ter uma cópia? — Maria Inês perguntou nervosa por medo de passar algum limite que talvez ainda existisse entre eles.

Joaquim pensou enquanto mastigava, mas respondeu depois de engolir.

— É que eu precisava ficar longe de tudo para pensar sobre um assunto.

— Quer conversar sobre? — a jovem perguntou e sentou ao lado do rapaz, por sua vez e para a surpresa dela, ele sorriu e deixou escapar um riso misturado com um suspiro.

— Acho que eu preciso mesmo. — vez uma pequena pausa, mas logo continuou. — Tem essa amiga que quando eu conheci, a primeira vez que vi ela, me apaixonei rapidamente. Só que ela acabou escolhendo o meu melhor amigo, Jonathan. Aliás, o nome dela é Roberta. — Joaquim olhou para cima, seu olhar ganhou um relance de preocupação e medo, uma mudança que Maria havia notado rapidamente. — Acontece que sempre fui apaixonado por ela, às vezes pouco e outras vezes muito, mas nunca quis interferir na relação dos dois, afinal, eram meus amigos. O meu melhor amigo desde minha infância. Só que agora uma coisa mudou…

— Mudou o quê? — perguntou a guerreira do espírito do Jacaré.

— A Roberta me viu fazendo a transformação, ela disse que me ver sendo um Tuhpanger fez ela ter a certeza de que sempre gostou de mim…

A reação de Maria Inês foi apenas uma, ela apenas soltou uma risada e quando notou que Joaquim havia ficado sem jeito, recuperou a pose o mais breve que podia.

— Desculpa, mas é que me pareceu…

— Interesse dela?

— Sim, desculpa… — disse a garota em tom baixo.

— Tudo bem. Eu também notei isso. Quer dizer, ela ficou com o Jonathan porque ele era mais rápido na pista de corrida…

Maria pousou sua mão sobre o ombro de Joaquim, o guerreiro vermelho, primeiro olhou para a mão da portuguesa, em seguida desviou seu olhar para os olhos dela. Nunca tinha notado como aqueles olhos castanhos eram bonitos, brilhantes como uma pedra preciosa, como uma estrela. Na verdade nunca havia notado a beleza dela.

Para Maria Inês aconteceu a mesma coisa, ela nunca tinha notado a beleza no olhar dele, nem o charme que envolvia os traços de Joaquim.

Estava acontecendo algo entra os dois daquele momento, mas eles ainda não saberiam descrever.

— Gente! O Rafael tá chamando para voltarmos a treinar! — entrou Miguel naquele canto, despertando os dois do transe.

Eles levantaram rapidamente e logo acompanharam o adolescente até o local da Aldeia Perdida em que os treinamentos estavam sendo realizados.

Sobre a pedra gelada da caverna que formava uma espécie de maca se encontrava deitado um homem inconsciente, um jovem, belo e forte rapaz indígena. A pele em um tom bronzeado terroso e longos cabelos negros, as pinturas ainda se encontravam presentes na pele e nos músculos do seu corpo de guerreiro. O observando, não muito longe, Cuca o estudava de uma maneira detalhada. Não podia acreditar que havia conseguido resgatar aquele guerreiro espiritual e de como ele seria útil para a queda dos seus inimigos.

— Você será muito útil, Ubiratã… — sussurrou a bruxa animada com a situação.

— Espero que ele seja útil, assim poderei sair dessa caverna e governar Pindorama. — disse Abaçay entrando no local, rapidamente a criatura com caracterizaras de um jacaré se curvou.

— Mestre Abaçay… Como pode ver conseguir resgatar o humano de sua prisão, o feitiço já foi lançado e assim que ele acordar, nos obedecerá em tudo.

— Tem certeza que os seus poderes funcionarão? — perguntou o demônio nada confiante. — Não me adianta um guerreiro espiritual que não pode usar seus poderes.

— Tenho certeza de que ele conseguirá usar seus poderes, afinal, os seus animais protetores estão ao seu lado não importa em que lado esse guerreiro esteja. Ainda mais em uma situação tão especial quanta essa. Ubiratã acordará acreditando que ele sempre esteve ao nosso lado, colocando seus animais no mesmo feitiço.

— Animais? — perguntou Abaçay curioso.

— Sim, o sexto guerreiro luta em batalha com dois animais, sucuri e a puma. — respondeu a Cuca.

— Ótimo, a cada nova informação fico mais confiante de que essa foi a sua melhor ideia, então, trate de não fazer com que tudo seja arruinado por aqueles cinco!

— Não será, mestre. Ainda levará um tempo para que o nosso guerreiro espiritual acorde, então, seria bom mandar Solaris para deixar os bobocas ocupados.

— Boa ideia, vou atrás do estrangeiro…

A Cinelândia se encontrava bem movimentada, como de costume, as pessoas estavam ali nos bares ou apenas passando. Um típico movimento para qualquer horário na praça. De repente, um portal se abre no meio da praça e dele saem Solares e os peões de Abaçay, deixando o povo que estava ali alarmado. Algumas pessoas começaram a correr para sair o mais rápido possível muito antes de Solares falar alguma coisa.

Solaris ria ao ver o desespero dos seres humanos civis, já aproveitando para colher as suas energias negativas. Algumas pessoas se escondiam dentro dos bares, restaurantes e outros pontos comerciais que encontravam por perto.

— Como é divertido atormentar a vida desses humanos! — dizia o soldado enquanto mexia seu cajado, ele apontou para uma fileira de mesas e cadeiras, disparou um intenso raio que fez com que tudo voasse pelos ares. — Façam a festa, seus sem cérebro! O nosso objetivo é chamar a atenção dos guerreiros espirituais!

Os peões de Abaçay, então, seguiram aterrorizando os civis que ainda estavam por lá, derrubando mesas e cadeiras dos comércios de bebida e comida. Empurravam homens e mulheres adultos uns para cima dos outros, corriam para dentro dos estabelecimentos com a finalidade de destruir tudo. Solaris ficou no centro de tudo, observando e rindo enquanto a destruição acontecia. A energia negativa emanava daquela região e ia para a caverna qual Abaçay se escondia.

Enquanto isso, na aldeia perdida, o treinamento dos guerreiros espirituais havia acabado de entrar em mais uma pausa. O quinteto bebia água enquanto descansavam sentados, Joaquim ainda estava com a sua equipe.

— Que cansaço, quem diria que treinar assim nos deixaria tão exaustos. — disse Miguel sentado no chão, seu corpo inclinado para trás e apoiado em seus cotovelos. — Espero que quando esse sexto guerreiro aparecer, tudo isso tenha valido a pena.

— Com certeza vai valer. — Rafael disse logo atrás de Miguel, em pé, com uma garrafa de água em sua mão.

— Como será ele? Já pararam para pensar? — perguntou Katarina. — Como deve ser o sexto guerreiro? Qual o seu animal protetor, qual a sua cor…

— Eu já me peguei pensando nisso. — respondeu Maria Inês.

— Eu também. — respondeu Miguel coçando a sua cabeça. — Mas eu não conheço muito da fauna brasileira e da Amazônia em específico, só alguns animais. Tipo, eu fiquei surpreso ao saber que existia uma “Harpia”…

Os outros, menos Joaquim, riem do comentário do mais novo.

— Não importa qual o seu animal protetor, qual seja a cor do seu traje de guerreiro espiritual. — disse o guerreiro vermelho de repente, deixando os seus companheiros surpresos e fazendo com que os mesmos levassem suas atenções a ele. — Nada disso importa, o que realmente importa é que vamos derrotar esse cara!

— É isso aí! — disse o guerreiro verde super animado erguendo seus braços para o alto.

— Tuhpangers! Meus guerreiros espirituais! — entrou Iara correndo, deixando os jovens alarmados.

— O que houve? — perguntou Rafael primeiro. — Aconteceu alguma coisa?

— Solaris está atacando uma praça nesse momento, ele está na Cinelândia destruindo tudo com os peões de Abaçay.

— Mas sem um monstro? — perguntou Maria Inês surpresa.

— Isso é novo. — comentou Miguel também surpreso.

— Não importa, vamos mesmo assim. É o nosso dever. — disse Joaquim em um tom firme. Os demais guerreiros concordaram com a cabeça, então, Joaquim puxou seu smartphone e acessou o aplicativo de transformação. — Prontos!

— Sim! — respondeu o quarteto.

— Espírito Protetor, invocar! — disse o líder acionando a transformação de todos os Tuhpangers.

Quando o grupo de cinco heróis coloridos chegaram ao local da batalha já se encontravam transformados e trajando seus uniformes especiais de guerreiros espirituais. Solares tomou a frente, ficando bem no campo de visão deles quando percebeu suas presenças.

— Guerreiros Espirituais Tuhpanger! — disse Solares apontando seu bastão para eles. — Bem-vindos a festa, mas ainda falta um convidado!

— Como assim? O que você quer dizer com isso? — questionou o guerreiro vermelho, irritado.

Um portal se abre atrás de Solares, então, Cuca entra em cena, mas o portão continua aberto.

— Tuhpangers! — diz a bruxa em um tom alto, levando sua mão para o alto e em seguida fechando o seu punho. — Conheçam aquele que vai derrotar todos vocês.

— Será que… — sussurrou o guerreiro verde para si mesmo.

— Não pode ser, mas já? — se perguntou a guerreira azul.

O guerreiro espiritual da Onça ficou em silêncio, se colocou em posição de ataque pronto para o embate que sabia que começaria.

— Conhecem o guerreiro espiritual laranja! — disse a bruxa e em seguida um ser com as mesmas características dos outros surgiu, entretanto esse sexto guerreiro espiritual tinha a cor laranja pelo seu uniforme e uma proteção verde no peito com um gigantesco olho de uma sucuri. Em seu capacete haviam detalhes de um puma.

— Esse é o sexto guerreiro. Que ficou desaparecido. — comentou o guerreiro rosa para o vermelho que estava ao seu lado.

Na aldeia perdida, Iara conseguia ver Ubiratã transformado no Tuhpanger laranja. Ela colocou a mão sobre o seu peito, fechou seus olhos em uma expressão de dor e sussurrou o nome daquele antigo indígena que havia desaparecido há muitos anos durante a batalha anterior contra Abaçay.

— Eu sei. — o líder espondeu apenas virando um pouco seu rosto para o lado, então, voltou a encarar seus inimigos. — Mas nós treinamos para isso, mesmo que tenha sido um treinamento rápido… — fechou seu punho de raiva. — Nós vamos conseguir lidar com ele!

Cuca soltou uma estridente risada.

— É isso que você pensa, vermelho! Vai ser divertido ver vocês sofrerem nas mãos de Ubiratã…

Rafael e Maria Inês ficaram com Solares. Miguel e Katarina ganharam a responsabilidade de cuidar dos peões que ainda estavam aterrorizando os civis. Joaquim ficou com a missão de batalhar contra Ubiratã.

O guerreiro cor-de-rosa chegou chutando Solares que defende segurando a perna do mesmo, então, a guerreira amarela apareceu pulando preparando um ataque com o seu bastão, apontando a ponta com a cabeça de um jacaré para acertar em cheio, entretanto, o oponente foi rápido e também conseguiu desviar daquele ataque.

— Vocês não são concorrência para mim! — disse Solares rindo.

— É isso que vamos ver! — disse o guerreiro da harpia.

— Não vamos deixar ele brincar com a gente assim. — disse a guerreira do jacaré em seguida, pousando sua mão sobre o ombro do outro.

— Certo, mas vamos ficar atentos para acabar com ele. — concluiu o rosa. — Martelo da Harpia! — disse Rafael sacando sua arma e correndo para cima de Solares.

O guerreiro cor-de-rosa correndo com seu martelo preparado para acertar uma incrível descida no seu oponente, mas com o seu bastão mágico, Solares conseguiu se proteger e empurrar o herói colorido. Rapidamente, o bastão se transformou em uma espada, mas não foi rápido o suficiente para que Solares conseguisse se proteger do chute que a guerreira amarela acertou em seu peito, ela lançou uma fantástica voadora contra ele.

— Não pense que somos fracos! — disse Maria Inês.

— Porque não somos! — completou Rafael.

Em seguida ambas sacaram seus disparadores.

— Disparador Espiritual! — ambos gritaram. As armas de energia carregaram e em seguida dispararam lasers contra Solares que não conseguiu fazer uma boa defesa por ser pego de surpresa.

— Lança Guará! — disse o guerreiro verde acertando um dos peões de Abaçay e em seguida acertando mais outro.

— Comam essas flechas de energia! — dizia Katarina enquanto disparava em cima de uma mesa de bar contra aqueles seres sem cérebro.

Essa parte não era a mais difícil entre as três divisões, mas haviam muitos peões ali e foi difícil se livrar de todos aos poucos. Ao mesmo tempo em que Katarina e o guerreiro verde iam eliminando um, conseguiam fazer com que um ou mais de um civis saíssem dali a salvo. Sem se machucar mais.

O guerreiro vermelho e o guerreiro laranja ainda se encaravam, a tensão no ar entre os dois podia ser cortada por uma lâmina. Era incrível como duas pessoas que nunca se viram na vida poderiam criar uma rivalidade tão tensa. Isso acontecia porque Joaquim sabia que aquele guerreiro só surgiu para derrotar a sua equipe, mas, principalmente, ele por ser o líder dos Tuhpanger. Pela visão de Ubiratã ele apenas sabia que era seu objetivo derrotar o vermelho, pois além de estar frente a frente com o líder, a sua missão era clara, acabar com os guerreiros espirituais.

Em uma das mãos do laranja surge uma espada, ela era igual ao do guerreiro vermelho, porém na ponta havia os detalhes de um puma. Na outra mão surgiu um escudo com a cara de uma sucuri, todo verde e cheio de escamas.

— Prepare-se para lutar de verdade, guerreiro da onça! — disse Ubiratã se colocando em posição de batalha, com a espada acima do escudo que estava em uma posição confortável para protegê-lo.

— Estou preparado… — respondeu Joaquim em posição de ataque, sem nenhuma defesa.

O guerreiro da onça-pintada deu o primeiro passo, avançando com sua espada, quando foi acertar seu ataque no oponente, o guerreiro mais velho se defendeu com seu escudo e sem pensar duas vezes girou a sua lâmina dirigindo ela em Joaquim.

Joaquim girou e conseguiu escapar da lâmina do puma. Então, mais uma vez, lançou a sua espada para cima do inimigo que mais uma vez defendeu o golpe, agora com a sua espada. Joaquim notou uma abertura na região do estômago. Não pensou muito, apenas chutou com toda sua força e fez com que Ubiratã desse alguns passos para trás.

— Droga, isso não vai ficar assim! — disse o guerreiro laranja e em seguida segurou sua espada com mais firmeza.

A luta recomeçou, eram vários golpes com as lâminas e todos defendidos da mesma maneira. O barulho delas se chocando ecoava pelo local, as faíscas pulavam de um lado para o outro. Os demais guerreiros que haviam derrotados os seus oponentes aparecerem no fundo da cena, assistindo aquela batalha.

— Cansei de brincar! — disse Ubiratã e em seguida começou a girar sua espada. — Ataque da Puma e da Serpente! — continuou a girar sua lâmina, o escudo também brilhou.

O guerreiro laranja ficou em posição de ataque, a espada levantada para cima e o escudo a sua frente, o defendendo. Sua defesa ainda brilhava verde, a espada parecia mais queimar em intensas chamas alaranjadas.

— Agora! — gritou o Laranja. Em seguida lançou sua lâmina para frente, as chamas avançaram para cima de Joaquim, o guerreiro vermelho foi engolido por aquele ataque.

Ubiratã se virou, ficando de costas para a cena enquanto tudo acontecia, colocou sua espada em seu ombro e em seguida a explosão final finalizou o poder. Quando as chamas e a fumaça se dissiparam, Joaquim estava no modo civil. Os seus companheiros de time se aproximaram, ainda estavam transformados.

— Você está bem? — perguntou a Azul.

— Vocês são fracos. Acabar com os Guerreiros Espirituais vai ser mais fácil do que eu pensei. — disse o Laranja se virando, apertando seu pulso com ódio. Em seguida um portal se abriu atrás dele e o levou embora.

Enquanto Joaquim ficava em pé com a ajuda da guerreira azul e do guerreiro cor-de-rosa, ele pensava com toda sua raiva em uma maneira de derrotar aquele novo inimigo. A missão de proteger o seu país e, possivelmente, o mundo, havia acabado de ganhar uma gigantesca pedra no caminho. Ela deveria ser neutralizada de qualquer maneira.

つづく…

CONTINUA…

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