EPISÓDIO 12

ESCRITA E CRIADA POR:
João Paulo Ritter

CLASSIFICAÇÃO:

Antes de tudo, eram tempos de paz… Todos na nossa aldeia viviam suas vidas em paz, perfeita harmonia, de vez enquanto havia desentendimento entre os demais povos, mas no fim, as brigas acabavam e não duravam muito. Se eu fechar meus olhos, ainda posso sentir os vento doce daquela época, ouvir o canto dos pássaros e o som da natureza selvagem… Era tudo tão lindo…
Assim como eu, aliás, como vocês já sabem… Ubiratã era um dos seis guerreiros que protegiam a aldeia em tempos de guerra, fomos escolhidos como os principais protetores porque nossas habilidades no campo de batalha eram iluminadas e guiadas pelos animais protetores do nosso povo. Foi por causa dessa ligação que mais tarde fomos escolhidos para sermos guerreiros espirituais, quando Abaçay começou a avançar seus ataques por toda Pindorama.
Só que Abaçay e eu éramos muito mais do que apenas colegas de equipe… Fomos prometidos, assim que nascemos, um para o outro. Desde de quando éramos pequenos bebês, nossos pais já sabiam que um dia nossos espíritos se tornariam um… O que vocês atualmente chamam de casamento. Ubiratã e eu estávamos prontos para unir nossos espíritos quando aconteceu o primeiro ataque do Abaçy e também quando foi pedida a ajuda dos espíritos protetores, quando ganhamos nossos poderes de Tuhpanger.
Então, aconteceu a última batalha contra Abaçay… Como vocês bem sabe, meus amigos e eu usamos nossas últimas forças vitais para aprisionar o demônio em um lugar que, em teoria, ninguém poderia encontra-lo. Foi assim que eu fiquei presa nesse santuário, que chamamos de Aldeia Perdida, nesse lugar onde o tempo não passa. Só que o Ubiratã havia sido sequestrado um pouco antes da batalha final, seu corpo ficou preso também em um lugar onde o tempo não passava, apenas esperando o momento para ser usado contra nós, como uma arma secreta.


A noite caiu, enquanto os outros guerreiros foram descansar, Maria Inês ficou acordada e pensativa sobre a história que Iara contou ao grupo. Não conseguia compreender como duas almas que pareciam destinas uma a outra podiam ficar separadas, Ubiratã tinha que voltar para o lado dos Tuhpanger e assim os dois ficarem juntos. Além disso, Maria Inês tinha certeza de que os dois eram almas gêmeas e se tivessem morrido na época da batalha, teriam reencarnado para ficarem juntos.
A guerreira amarela possuí uma forte crença na doutrina espírita.
— O que está fazendo aqui?
Maria Inês se virou ao ouvir aquela voz, sorriu quando viu a figura de Rafael se aproximando.
— Não foi para casa? — o guerreiro da harpia perguntou.
— Não… Estou sem sono… — respondeu Maria Inês e em seguida suspirou. — Na verdade, eu estava pensando sobre a história de Iara… Acho que deveríamos tentar fazer com que Ubiratã voltasse para o nosso lado.
— Como? Ele foi corrompido.
— Eu sei, mas eu acho que se a gente lembrar ele das histórias que viveu ao lado de Iara… Ele pode retornar… Se eles se amam de verdade.
Rafael fez uma careta que Maria não percebeu, para o bem dele. Não acreditava em histórias de amor, amor verdadeiro ou amor à primeira vista, acreditava, na verdade, que o sentimento de se apaixonar era puramente físico e não metafísico.
— Qual sua ideia? — perguntou o guerreiro rosa.
— Não sei, talvez eu espere a próxima vez que ele atacar e tento conversar… Chamar ele sozinha para isso, parece meio burrice.
— Vamos descansar, quem sabe o que nos espera amanhã. — disse Rafael e em seguida a guerreira amarela concordou, juntos, os dois deixaram a aldeia perdida.


Enquanto isso, na caverna de Abaçay…

Adentrando a escuridão dos corredores da caverna, poderíamos chegar a uma das várias salas reservadas a um dos ajudantes do espírito maligno. Solaris estava, completamente sozinho, em seu canto. Refletindo sobre os últimos acontecimentos envolvendo a batalha com os Tuhpanger e a chegada do guerreiro verde com novos poderes.
Então, o soldado do sol caminhou até a sala onde a feiticeira ficava maquinando suas próximas ideias para acabar com os guerreiros espirituais.
— O que você quer? — perguntou Cuca.
— Não ficou preocupada quando viu o guerreiro verde com novos poderes?
— Não, claro que não… Afinal temos o guerreiro laranja do nosso lado… Nenhum poder novo vai derrota-lo.
Solaris soltou uma risada profunda e debochada.
— Será? Acredito que com a nova ajuda que eles estão conseguindo, seu guerreiro laranja vai ser derrotado facilmente… Talvez, até mesmo retornar para o lado deles.
Cuca se virou dramaticamente, ofendida.
— Acredita que minha magia é tão fraca assim?
— Não, mas acredito que nossos inimigos estão ganhando mais força…
Cuca pensa no que ouviu, o soldado tinha razão em ficar preocupado com a iminente derrota deles, mas, de repente a bruxa lembrou de algo e em seguida soltou uma risada que deixou o outro confuso.
— O que é isso bruxa?
— Lembrei de algo… O medidor de energia está quase cheio, não tem como nosso mestre perder. Precisamos dar o último golpe de mestre… Assim, Abaçay estará pronto para dominar toda Pindorama e depois… O Mundo inteiro!
— Então, seu reino de trevas irá começar. Qual o plano?
Cuca sorriu, passando sua mão sobre seu queixo. Então, começou a dizer:
— Vamos precisar da ajuda do guerreiro laranja…


Katarina não lembreva qual foi a última vez em que foi até a praia apenas para relaxar. Apesar dos ataques do exército de Abaçay, as pessoas não tinham esquecido suas vidas. Tudo continuava normal até o próximo monstro aparecer. Sentada em frente ao mar azul, a garota se perguntava quando tudo aquilo iria terminar e assim poder retornar para sua rotina de treinos, sua vida normal. Mas será que ela conseguiria ter uma vida normal depois disso tudo ou ficaria com algum tipo de trauma de guerra? Era algo a se preocupar, talvez ela fosse procurar uma psicóloga depois de tudo.
— Está bem? — disse Joaquim sentado ao lado da garota loira.
Katarina sorriu e em seguida concordou com sua cabeça.
— Sim, estava pensando qual foi a última vez em que eu fiquei assim… Parada, pensando e pensando… — suspirou. — Acho que sei, foi quando eu tive que decidir entre meu treino e ser uma guerreira espiritual.
— Se arrepende?
A garota pensou antes de responder.
— Talvez… Bem, às vezes sim, mas aí… Eu percebo que ajudar o mundo a não ser conquistado por Abaçay é algo bom… Só que, também…
— Outra pessoa poderia estar fazendo o trabalho.
Kataria ri.
— Sim, eu penso isso…
— Já pensei dessa forma. Agora, eu tento impedir que esses pensamentos cheguem até mim. Ainda mais depois da chegada de Ubiratã…
— Acho que deveríamos ajudar ele. Sei que a Inês concorda comigo.
— Ajudar? — o guerreiro vermelho perguntou confuso.
— Sim. Ele não está fazendo isso porque quer, mas sim porque ele está enfeitiçado. Entende?
Joaquim bufa enquanto coça sua nuca, não acreditava naquela teoria. Pensava que talvez fosse da essência do guerreiro laranja ser daquele jeito.
Os celulares de Joaquim e Katarina começaram a tocar, era uma aviso do aplicativo de transformação. O guerreiro vermelho pegou seu aparelho mais rápido.
— O que foi?
— Parece que está acontecendo uma luta no corcovado.
— Vamos para lá.
— Espera… — disse Joaquim ainda lendo. — O Ubiratã está lutando contra o Solaris.
Katarina faz uma careta, confusa porque estavam falando dele naquele exato momento.

As espadas de Solaris e Ubiratão batiam em frente ao sol, dividindo o reflexo da luz em vários feixes, parecia uma cena de filme de samurai. A luta perfeitamente coreografada enxiam os olhos dos espectadores, tanto os civis quanto os três guerreiros espirituais, verde, amarela e rosa, que estavam ali presentes.
— O que vamos fazer? — perguntou o Lobo Guará.
— Eu acho que a gente tem que ajudar… — respondeu a guerreira amarela.
— Mas quem? — o rosa questinou. — Eles estão brigando porque um está do nosso lado ou apenas porque não se gostam?
De repente, já transformados também, o Vermelho e a Azul chegaram.
Quando Joaquim viu aquela cena, ficou de queixo caído. Perguntou:
— Os dois estão brigando? Por qual motivo?
— Não sabemos. — respondeu o guerreiro da Harpia.
Então, Solaris acertou um golpe no guerreiro laranja que o fez voar para longe, perto dos guerreiros espirituais. A equipe ficou preparada para um ataque, então, Ubiratã, ainda caído no chão, disse:
— Não vão me ajudar, amigos?
Os cinco ficaram sem saber como reagir diante daquilo, esperavam por qualquer outro motivo, mas aquele era o menos provável.
— Ninguém pode te ajudar, traidor. — disse Solaris. — Na próxima, eu vou acabar com você!
O portal se abriu atrás do soldado e em seguida ele retornou para a caverna.
Os civis ficaram cochichando, observando aquela cena. Joaquim e seus grupo se aproximaram de Ubiratã, Maria Inês e Katarina ajudaram o guerreiro indígena a levantar.
— Por favor, eu acho que não vou aguentar.
— Vamos levar ele para a Aldeia. — disse o Verde.
— Não… — respondeu o Vermelho.
— Por que não? — questionou a Amarela. — Ele pode estar morrendo… E sabemos que ele está no nosso lado.
— Pode ser uma armadilha. — respondeu o líder.
— Por favor, não temos tempo para isso. — disse a Azul. — Vamos levar ele para a Aldeia, me ajuda Amarela.
Então, as duas guerreiras se transportaram para a Aldeia Perdida.
Depois de um silêncio constrangedor, o Verde fez o mesmo. O guerreiro rosa ficou de frente para o líder.
— Concordo com você, acho que deve ser uma armadilha. Então, vamos voltar antes que o pior possa acontecer.
Joaquim concordou com sua cabeça e em seguida eles se transportaram.


Quando Iara viu a figura de Ubiratã na sua frente, machucado da batalha com Solaris, as memórias anciãs retornaram como se fossem da semana passada. Assim como ela, o guerreiro ainda tinha o mesmo aspecto jovem e forte, tirando os machucados. Ela caminhou, rapidamente, até o seu antigo amor. Segurou seu rosto, nesse momento Katarina e Inês se afastaram.
A guerreira indígena olhou dentro dos olhos castanhos do rapaz e os dois sorriram. Se abraçaram, tentando matar séculos de saudades. As duas guerreiras sorriram ao ver aquela cena, parecia o final feliz tão esperado de uma telenovela.
— É você mesmo, Ubiratã?
— Sim. — respondeu o rapaz. — Eu voltei… Não sei como, mas me livrei do feitiço daquela feiticeira… Me desculpe por tudo que eu fiz, Iara… — olhou para as guerreiras e em seguida chegou Miguel, depois venho Joaquim e Rafael. Ainda fraco, Ubiratã se aproximou dos guerreiros espirituais. — Mais uma vez, me desculpem… Eu não era eu… Não sei como vou limpar minha relação com vocês.
Joaquim e Rafael trocaram olhares, ainda desconfiados, mas perceberem o sorriso na face de Iara. Era sincero.
— Vai ficar tudo bem, meu amor… — disse a protetora da aldeia. — Ajudando a derrotar Abaçay, vai fazer com que se redima.
— Verdade. Precisamos de ajudar. — respondeu Katarina.

Rafael e Joaquim se afastaram do grupo, mas sem desviar totalmente a atenção de Ubiratã.
— O que você acha? — perguntou Rafael a Joaquim, então, o rapaz respondeu:
— O mesmo de antes… Não confio nessa história, tá muito mal contada.
— Então? O que quer fazer?
— Vamos ficar de olho nele, se for um plano, uma armadilha… Logo a verdade vai aparecer. — respondeu o guerreiro vermelho por fim.
Maria Inês e Miguel se aproximaram da dupla, muito empolgados.
— Vamos ter uma festa hoje! — disse o mais jovem.
— Festa? — perguntou Rafael.
— Sim! Vamos comemorar o retorno de Ubiratã e a felicidade da Iara! — respondeu Maria Inês também empolgada. Então, cada um vai trazer um prato hoje à noite!
Rafael suspirou e em seguida Joaquim concordou com sua cabeça. Quando o verde e a amarela se afastaram, Joaquim disse:
— Vamos apenas jogar o jogo.


— Acha que esse plano realmente dará certo, feiticeira? — questinou Solaris.
— Sim. O meu feitiço foi enfraquecido para que Iara e os Tuhpanger acreditem, mas no momento certo, tudo voltará a normalidade. Então, o Gurreiro Laranja vai acabar com aquela aldeia perdida! E com isso, Abaçay terá energia negativa mais do que suficiente para acabar com os Tuhpanger!
Como se estivesse em um filme de conto de fadas, Cuca soltou uma risada maléfica, encerrando seu discurso.

つづく

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