CAPÍTULO 06: As Aventuras do Anjo Noturno

UMA HISTÓRIA DE: João Paulo Ritter

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Dobrando a esquina, um furgão negro surgiu com toda a velocidade que o motorista conseguia colocar quando seu pé ficava fixo no acelerador. Não demorou muito para que, no céu da grande Porto Alegre, surgisse o super-herói Anjo Noturno perseguindo o veículo desgovernado. Logo atrás dele estavam dois carros da polícia. Seu olhar não o perdia de foco, tinha que encontrar uma maneira de pará-lo, pois ali dentro estava um grupo de criminosos que acabaram da assaltar um grande banco do centro da cidade. A porta de trás do furgão foi aberta, revelando dois homens encapuzados, um branco e outro negro. O homem negro que, mesmo com a máscara, parecia ser o mais velho, segurava uma arma de fogo apontando para o herói, enquanto o outro segurava uma das bolsas de dinheiro.

O mascarado com a arma começou a disparar contra Anjo Noturno, quando percebeu a ação, rapidamente o super-herói ficou parado no ar e com a energia roxa que consegue manipular, ele criou um escudo que desfez as balas quando entraram em contato. Sem pensar duas vezes, os dois homens fecharam a porta do furgão e o veículo pegou mais velocidade, dobrando em outra esquina.

— Tchê, esses caras não perceberam que eu tenho um par de asas?! — Se perguntou o adolescente atingindo seu nível de paciência.

Os assaltantes, sem saber que Miguel havia pegada um atalho pelo céu, já comemoravam a suposta vitória sobre o super-herói gaúcho, então, de repente, foram surpreendidos quando sem transmitir algum aviso, Anjo Noturno desceu do alto e com o seu punho energizado e emitindo um brilho violeta, socou o capô do furgão em movimento, fazendo com que o veículo parasse de andar e ficasse levemente inclinando para frente.

O grupo de criminosos deixou o furgão às presas, revelando ser um quinteto. Três estavam sentados na frente. Mas a fuga foi impedida quando os dois carros da polícia estacionaram em frente a eles, os homens fardados saíram do veículo e logo apontaram suas armas e por trás, Anjo Noturno ficava em posição de ataque com a sua energia roxa já pronta em seus punhos.

— Temos duas opções aqui. — Começou o herói, tentando parecer um ser humano sensato. — Começarmos uma briga, que vai acabar em um tiroteio e ferir inocentes e mesmo assim vocês vão ser capturados ou se entregarem. Podemos fazer do jeito difícil ou fácil, é só escolherem.

Os bandidos trocaram olhares, estavam pensativos. Enquanto decidiam o que iam fazer, momentos de tensão preencheu todo aquele lugar, os policiais, os civis e o Anjo Noturno se encontravam nervosos, pois se decidissem pelo jeito difícil a coisa ficaria tempestuosa. O do meio foi o primeiro a levantar as mãos para o alto e largar a arma que carregava, em seguida, aos poucos, os outros fizeram o mesmo.

Miguel soltou um suspiro, ficando mais tranquilo.

Uma das formas da família de Leandro ter uma renda fixa fora da típica carteira assinada era o negócio de locação de imóveis. Ao logo do tempo as gerações foram adquirindo casas ali e aqui por Porto Alegre e algumas na região praiana do estado sulista, porém tem um local que nunca conseguiram alugar e graças à lábia que Leandro tem sobre seus pais, conseguiu transformar o velho galpão em um esconderijo para o Anjo Noturno… Ou um Quartel General. O jovem japonês disse aos pais que precisaria do local para montar um escritório para o site de cultura pop que estrearia em breve na internet.

Por enquanto, o QG do trio, somente contava com um sofá velho, uma poltrona velha onde Daniela se encontrava lendo um livro, um freezer de qualidade duvidável e para finalizar, um computador que ficava no canto ao lado de uma impressora.

Cansado, com cada parte do seu corpo doendo e ainda com um grande roxo entorno dos seus olhos, Miguel entrou na base improvisada da Equipe Anjo Noturno. O adolescente, com passos lentos, caminhou até o sofá desocupado, mas quando foi deitar ali, acabou caindo no chão. Daniela e Leandro levaram um susto, lançando olhares de preocupação os dois se aproximaram do amigo que estava estirando no chão.

— Tudo bem aí? — Perguntou Leandro.

— Ele parece bem? — Respondeu Daniela com outra pergunta.

— Cansado, muito cansado. — Sussurrou Miguel. — Meus braços doem, minhas pernas doem… As minhas asas estão doendo e elas nem estão aqui neste momento!

— Tchê, tu tem que ir para casa descansar. Olha só o teu estado, parece que saiu direto da gravação de um episódio de The Walking Dead. — Comentou Leandro. — Tem que descansar principalmente porque de madrugada nós temos uma missão para você… O Anjo Noturno…

— Ah não, qual dessa vez? — Perguntou o herói com a voz abafada.

Daniela caminhou até o computador e voltou rapidamente com uma folha em suas mãos, se tratava da notícia de um portal importante no estado. A garota negra começou a leitura, um homem estava colocando fogo em casas na zona mais rica de Porto Alegre, em casas específicas de médicos importantes. Os policiais ainda não haviam feito à descoberta de quem era o autor ou os seus motivos, porém estavam trabalhando para chegarem a uma conclusão.

— Então vamos ter que lidar com um incendiário? — Miguel levantou do chão enquanto fazia a pergunta, ainda com o seu rosto cansado, porém em uma posição séria para ouvir seus amigos. — Como isso vai ser?

— Leandro e eu acompanhamos os bairros, ruas em que esse homem atuou e chegamos à conclusão que ele vai atacar Três Figueiras ou Bela Vista. — Respondeu Daniela.

— Mas achamos que Três Figueiras é certeira. — Respondeu o jovem japonês em seguida. — Também demos um nome para ele… Combustor. — Sorriu ao terminar de falar.

— Você deu esse nome. — Sussurrou Daniela.

— Certo, certo. — Disse o super-herói tentando colocar sua cabeça no lugar. — Eu vou para casa, descansar um pouco e lá por uma hora da madrugada eu saio tudo bem?

Daniela afirmou com sua cabeça e em seguida falou:

— Sim, geralmente esses ataques estão ocorrendo pelas três da madrugada.

— Okay, então a gente se vê mais tarde. — Disse Miguel.

Quando entrou em sua casa, se deparou com tudo silencioso, ficou surpreso já que Miguel esperava encontrar a sua mãe assistindo a telenovela mexicana da tarde. Logo lembrou de que ela faria hora extra por causa dos seus dias sem aparecer para trabalhar por causa do seu machucado. Entrou no quarto da mulher para constatar e confirmou seus pensamentos ao encontrar um quarto vazio.

Quando entrou na cozinha, Miguel teve outra surpresa ao ver espalhados sobre a mesa alguns papéis que pareciam ser boletos bancários. Enquanto sentava a mesa, pegou um desses e começou a ler, sim, se tratavam de contas e atrasadas. Água, luz, entre outros. O adolescente ficou mais surpreso por ainda não terem tomado a casa deles. Se perdeu em seus pensamentos, as dificuldades dentro de casa estavam aumentando a cada dia, sua mãe precisava de ajuda, mas mesmo sem pedir a ele, Miguel sabia que o certo era ajudá-la. Sabia também que para fazer, teria que deixar de lado seu lado de super-herói.

Ao mesmo tempo em que tinha que parar, Miguel não queria deixar de ser o Anjo Noturno, pois essa pequena parte da sua vida, mesmo que tenha começando há pouco tempo, tinha se tornado algo importante para ele e um escapa da sua realidade.

A madrugada se encontrava tranquila, como sempre, principalmente se você fosse alguém que se encontrasse entre as nuvens.

Quando deixou a sua casa, a mãe de Miguel já estava dormindo em sua cama e isso fez o rapaz ficar mais calmo para a missão daquela noite. Teria que ficar boa parte da madrugada rondando o bairro três Figueiras, pelo que tinha compreendido do que Daniela e Leandro falaram, poderia ter uma mínima chance de o homem denominado de Combustor atacar o outro bairro. Bem, estava torcendo para estar no lugar certo.

Muito diferente…

Foi o primeiro pensamento que o Anjo Noturno teve ao chegar ao local.

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