Daquele lugar era possível ter uma visão surpreendente, uma visão que qualquer humano poderia sonhar, mas muitos não poderiam realizar. Parecia enxergar o mundo de cima mesmo que a Aldeia Perdida não ficasse flutuando no céu do continente, mas, sim, em uma dimensão separada. Havia um lugar especial que, desde a chegada dos cinco Tuhpanger, era o mais calmo entre os cantos da Aldeia Perdida. Desde então, Joaquim usava essa região especial, o topo de uma árvore que ao lado das outras formava um suporte natural de galhos com força o suficiente para segurar o peso do corpo de qualquer ser humano. Como Maria Inês, a guerreira amarela, sabia que o guerreiro vermelho estaria ali em cima, por esse motivo levou para ele um prato de comida. — Achei que estaria com fome. — sorriu a portuguesa. Joaquim olhou para baixou, sorriu e em seguida desceu com um pulo. — Obrigado. — agradeceu e pegou o prato, sentou no chão para comer. A guerreira amarela continuou o observando, precisava perguntar porque já havia percebido, desde a semana passada, que alguma coisa em sua vida pessoal havia acontecido. — Por que você escolheu não ter uma cópia? — Maria Inês perguntou nervosa por medo de passar algum limite que talvez ainda existisse entre eles. Joaquim pensou enquanto mastigava, mas respondeu depois de engolir. — É que eu precisava ficar longe de tudo para pensar sobre um assunto. — Quer conversar sobre? — a jovem perguntou e sentou ao lado do rapaz, por sua vez e para a surpresa dela, ele sorriu e deixou escapar um riso misturado com um suspiro. — Acho que eu preciso mesmo. — vez uma pequena pausa, mas logo continuou. — Tem essa amiga que quando eu conheci, a primeira vez que vi ela, me apaixonei rapidamente. Só que ela acabou escolhendo o meu melhor amigo, Jonathan. Aliás, o nome dela é Roberta. — Joaquim olhou para cima, seu olhar ganhou um relance de preocupação e medo, uma mudança que Maria havia notado rapidamente. — Acontece que sempre fui apaixonado por ela, às vezes pouco e outras vezes muito, mas nunca quis interferir na relação dos dois, afinal, eram meus amigos. O meu melhor amigo desde minha infância. Só que agora uma coisa mudou… — Mudou o quê? — perguntou a guerreira do espírito do Jacaré. — A Roberta me viu fazendo a transformação, ela disse que me ver sendo um Tuhpanger fez ela ter a certeza de que sempre gostou de mim… A reação de Maria Inês foi apenas uma, ela apenas soltou uma risada e quando notou que Joaquim havia ficado sem jeito, recuperou a pose o mais breve que podia. — Desculpa, mas é que me pareceu… — Interesse dela? — Sim, desculpa… — disse a garota em tom baixo. — Tudo bem. Eu também notei isso. Quer dizer, ela ficou com o Jonathan porque ele era mais rápido na pista de corrida… Maria pousou sua mão sobre o ombro de Joaquim, o guerreiro vermelho, primeiro olhou para a mão da portuguesa, em seguida desviou seu olhar para os olhos dela. Nunca tinha notado como aqueles olhos castanhos eram bonitos, brilhantes como uma pedra preciosa, como uma estrela. Na verdade nunca havia notado a beleza dela. Para Maria Inês aconteceu a mesma coisa, ela nunca tinha notado a beleza no olhar dele, nem o charme que envolvia os traços de Joaquim. Estava acontecendo algo entra os dois daquele momento, mas eles ainda não saberiam descrever. — Gente! O Rafael tá chamando para voltarmos a treinar! — entrou Miguel naquele canto, despertando os dois do transe. Eles levantaram rapidamente e logo acompanharam o adolescente até o local da Aldeia Perdida em que os treinamentos estavam sendo realizados. … Sobre a pedra gelada da caverna que formava uma espécie de maca se encontrava deitado um homem inconsciente, um jovem, belo e forte rapaz indígena. A pele em um tom bronzeado terroso e longos cabelos negros, as pinturas ainda se encontravam presentes na pele e nos músculos do seu corpo de guerreiro. O observando, não muito longe, Cuca o estudava de uma maneira detalhada. Não podia acreditar que havia conseguido resgatar aquele guerreiro espiritual e de como ele seria útil para a queda dos seus inimigos. — Você será muito útil, Ubiratã… — sussurrou a bruxa animada com a situação. — Espero que ele seja útil, assim poderei sair dessa caverna e governar Pindorama. — disse Abaçay entrando no local, rapidamente a criatura com caracterizaras de um jacaré se curvou. — Mestre Abaçay… Como pode ver conseguir resgatar o humano de sua prisão, o feitiço já foi lançado e assim que ele acordar, nos obedecerá em tudo. — Tem certeza que os seus poderes funcionarão? — perguntou o demônio nada confiante. — Não me adianta um guerreiro espiritual que não pode usar seus poderes. — Tenho certeza de que ele conseguirá usar seus poderes, afinal, os seus animais protetores estão ao seu lado não importa em que lado esse guerreiro esteja. Ainda mais em uma situação tão especial quanta essa. Ubiratã acordará acreditando que ele sempre esteve ao nosso lado, colocando seus animais no mesmo feitiço. — Animais? — perguntou Abaçay curioso. — Sim, o sexto guerreiro luta em batalha com dois animais, sucuri e a puma. — respondeu a Cuca. — Ótimo, a cada nova informação fico mais confiante de que essa foi a sua melhor ideia, então, trate de não fazer com que tudo seja arruinado por aqueles cinco! — Não será, mestre. Ainda levará um tempo para que o nosso guerreiro espiritual acorde, então, seria bom mandar Solaris para deixar os bobocas ocupados. — Boa ideia, vou atrás do estrangeiro… … A Cinelândia se encontrava bem movimentada, como de costume, as pessoas estavam ali nos bares ou apenas passando. Um típico movimento para qualquer horário na praça. De repente, um portal se abre no meio da praça e dele saem Solares e os peões de Abaçay, deixando o povo que estava ali alarmado.